Sobre danos e reparações

Conselheiro Lafaiete, 09 de janeiro de 2024

Olá, querida mãe, como vai?

Por aqui, ainda me recuperando de um dia difícil. Ontem foi um dia difícil para mim profissionalmente, mas não tinha consciência disso. Achei que as coisas estavam resolvidas. Puro engano! E o que me fez perceber isso foi a minha reação exagerada a partir de um comportamento da minha filha. 

Nós estávamos tentando fazer a matrícula dela online no Instituo Federal. Era uma oportunidade comemorativa, de conquista, motivo de alegria para nós. Juntamos os documentos, mas o cadastro não estava sendo validado.  Juntas fomos entender o que se tratava e descobrimos que havia um erro de digitação que fez o sistema travar.  

Tivemos um contratempo neste processo, o que é bastante comum. Então, como é do meu hábito, propus uma solução e lhe informei que era para ela tomar a iniciativa que eu estaria ao lado dela para ajudá-la. Mas essa iniciativa, neste momento, foi demais para ela, que se sentiu muito insegura, tímida e incapaz. Essa postura dela, foi um gatilho para mim.  Eu fiquei uma pilha de nervos, completamente impaciente, meu sangue foi talhando e foi subindo uma pressão das minhas pernas em direção a minha cabeça e uma sensação que eu iria explodir. Ela percebeu, claro, o que a tornou ainda mais desesperada. Sabe quando um gatilho em mim, desperta outros gatilhos nas outras pessoas e se não nos cuidarmos, acabamos entrando em um fogo cruzado na forma de discussões violentas e agressivas sem saber muito bem o que está acontecendo. 

Neste momento eu recuei, informando a ela que aguardaria ela se acalmar para continuarmos. Mas ao afastar, percebi que, na verdade, quem precisava tranquilizar-se era eu. Naquele furacão emocional eu não era capaz de ajudar ninguém, muito pelo contrário. Eu precisava entender melhor o que estava acontecendo comigo e naquele momento e contexto, compreendi um pouco melhor o trecho de um livro que eu estava lendo:

“(…) quando você sente raiva ou qualquer emoção difícil, incluindo ressentimento, frustração, inveja, repulsa, pânico, irritação, pavor, medo, etc… Em resposta a algo que seu filho fez ou pediu, pode ser bom pensar nisso como um alerta. Não um alerta de que a criança necessariamente esteja fazendo algo errado, mas sim de que seus próprios gatilhos emocionais estão sendo disparados.” (O livro que você gostaria que seus pais tivessem lido de Philippa Perry)

O meu estado emocional não me deixou tranquila para perguntar a ela o que estava acontecendo de verdade, instruí-la com mais detalhe e paciência. Nem compreender o que de fato estava acontecendo e o que dificultava. A minha fala não foi coerente com a minha atitude e, na verdade, eu fui mesmo é violenta com ela. 

Felizmente meu marido estava em casa e viu a situação. Me orientou a ter mais paciência e ajudá-la naquele momento. Foi quando eu consegui expressar a minha instabilidade e lhe disse:

– Por favor, hoje eu não consigo. Preciso de ajuda. Será que você pode ir lá e ajudá-la desta vez?

E assim ele fez. Eu almocei, fiz algo para relaxar e foi aí que eu percebi o quão instável eu estava. Procurei entender um pouco melhor o que estava acontecendo e compreendi que a minha decisão profissional do início da manhã não estava resolvida em mim. 

No fim do dia, chamei minha filha para conversar e pedi desculpas para ela, explicando que a minha reação exagerada não estava relacionado ao comportamento dela, e sim ao meu estado emocional. Que eu estava enfrentando uma dificuldade profissional e foi essa situação que me fez perder a cabeça. Pedi para ela também um pouco de paciência para me ajudar nestes dias. Disse que a amava e que poderia continuar contando comigo. 

Ela me olhou, sorriu e disse: 

– Está tudo bem. 

Lhe pedi para dar um beijo de boa noite, que foi consentido e assim fomos dormir. 

Ainda reflexiva, me despeço. 

Tenho 46 anos e sou mãe de duas adolescentes com 13 e 15 anos.


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