A magia do Papai Noel

Conselheiro Lafaiete, 02/01/2024

Olá, como você está hoje?

Por aqui, estou ainda no clima das festividades do fim de ano. E dentre tantos pensamentos, me coloco reflexiva a respeito dos muitos rituais que se materializam dentro da minha família e como esses se projetam, se adaptam no decorrer do tempo. Meus pais ensinaram a mim e aos meus irmãos sobre a magia do Papai Noel. Lembro com muito carinho e afeto a expectativa gerada às vésperas do Natal pela chegada do bom velhinho. Quando criança, escrevíamos a cartinha e na noite do dia 24, antes de irmos dormir, deixamos um par de sapatos embaixo da árvore de Natal. E a crença de que se fôssemos boas crianças, o Papai Noel deixaria para nós um presente. E ganhar presentes no Natal era também uma evidência de que estávamos no caminho certo..

Manhã do dia 25 era uma festa em casa. A gente acordava cedo e íamos correndo para a sala, apreciar os presentes. Quem acordava primeiro chamava os outros. Depois íamos acordar nossos pais para abrirmos os presentes juntos. E neste clima fomos crescendo.. 

Minha mãe conta que foi através desta gostosa tradição que eu abandonei a chupeta. Segundo ela, na véspera do Natal, quando eu tinha de 2 para 3 anos, eu tive a ideia de deixar a chupeta na sala, junto ao meu sapato, para que o Papai Noel substituísse a chupeta por um presente, pois eu não precisava mais dela, e ele teria a oportunidade de presenteá-la pra outra criança necessitada. E assim aconteceu. 

Em outro episódio, lembro de ter acordado de madrugada na noite do dia 24 para o dia 25 de dezembro, e com a casa silenciosa e escura, fui cuidadosamente para a sala. Acreditava que se o Papai Noel visse ou ouvisse alguma criança acordada enquanto estivesse deixando os presentes, ele se assustaria e fugiria sem terminar o serviço. Me aproximei da porta fechada, pousei o meu ouvido sobre ela, quase sem respirar para não fazer barulho, porém o medo de surpreender o Papai Noel foi tão grande que achei melhor voltar para a cama e aguardar um pouco mais.

A maneira de vivenciar a magia do Papai Noel foi se modificando com o meu crescimento. Mesmo depois de saber que o bom velhinho não existia da maneira que eu originalmente entendia, a magia do Natal se mantinha. Meus pais faziam questão de manter o ritual.

Quando mais tarde, comecei a trabalhar, decidi que chegou a minha vez de vivenciar e experimentar a magia do Papai Noel. Desta vez, eu quis presentear a família com uma televisão. Lembro da jornada que foi para conseguir arranjar estratégias para comprá-la, embrulhá-la, escondê-la, para deixar na sala na virada da noite, sem que nenhum dos outros membros da família soubessem. E a alegria em colocar os pares de sapatos em cima da TV embrulhada como presentão, pois na época a televisão tinha um tubo atrás.  A expectativa em vê-los chegar na sala e se depararem com aquele presentão, nesta minha primeira experiência, quase explodiu meu coração. Ah, como foi emocionante. 

No primeiro Natal que passei com o meu companheiro em nossa casa, pedi para ele manter o costume. Expliquei como funcionava. E assim combinamos e fizemos… 

Depois do nascimento das minhas filhas, aí que a tradição ganhou um novo brilho com a presença do encantamento infantil. Estimulava a escrita das cartinhas, as histórias e a delícia que era comprar os presentes, mantê-los escondidos para entregar somente na noite de Natal. Também passamos a tirar fotos natalinas junto aos enfeites.

Quando umas das minhas filhas suspeitou da história do Papai Noel, resolveu desafiá-lo e pediu um papai noel de chocolate medindo um metro. E não é que o desafio foi aceito? Tudo para manter a magia. Passado um tempo, ela veio conversar comigo para dizer que tinha descoberto que o Papai Noel não existia. Eu disse a ela que a magia do Papai Noel poderia acabar ou não. Dependia da escolha dela. E que eu, na idade dela e até hoje, escolhi e escolho mantê-la. Então lhe informei que com o passar do tempo, as nossas experiências vão se modificando, e que ela poderia manter ou não a magia dentro de si. Quando crianças, ela se materializa na crença concreta da existência da figura do Papai Noel e com o passar da idade, mantendo o ritual e depois vivenciando a experiência de ser o próprio Papai Noel. 

E eis que este ano, minhas filhas, resolveram então experimentar serem o Papai Noel uma da outra. Utilizaram a mesada para providenciarem os presentes. Uns dias antes do Natal, eu sentia no ar um brilho diferente no olhar delas, na alegria do planejamento escondido, na expectativa de fazer algo diferente, independente. 

E na calada da noite do dia 24 de dezembro, silenciosamente, quando todos estávamos dormindo, cada uma a seu tempo, foi lá na árvore e por alguns minutos se transformaram em “Papai Noel” deixando debaixo da árvore os presentes. 

E de manhã, é claro, que acordaram cedo e ficaram esperando a gente acordar, para juntos, abrirmos os presentes. Ali, naquele momento, cada um de nós, vivenciou a magia de ganhar presente e bem como a magia de presentear e ser o Papai Noel por alguns instantes.

E neste momento, neste retrospecto, eu, no auge dos meus 46 anos, me sinto muito confortável em dizer que acredito na magia do Papai Noel e me sinto orgulhosa em presenciar, que, pelo menos, no Natal de 2023, em alguma instância e de alguma maneira, a minha família também acreditou. 

Tenho 46 anos, e sou mãe de duas adolescentes, com 15 e 13 anos.


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