Cansaço e seus impactos

Conselheiro Lafaiete, 06 de dezembro de 2023

Querida mãe, como você está hoje? Eu estou cansada e escrevendo para tentar entender como esse meu cansaço se reverbera na minha família.

Estamos no fim de ano… E neste fim.de ano, especialmente, os compromissos estão aglutinando dias úteis com fins de semana, numa mistura de meus compromissos pessoais e profissionais, compromissos das minhas filhas e do meu marido.

E hoje, na hora do almoço, ao relatar para ele os comportamentos das nossas filhas que estão me incomodando, recebo a seguinte afirmativa:

– Elas estão assim por nossa responsabilidade.

Neste momento, apesar de ouvir a palavra NOSSA, acabo absorvendo SUA… O que me leva automaticamente para um lugar que eu não curto estar, que é o lugar da culpa… E neste instante entendo que permanecer aí não é útil para ninguém… Nem um lugar que eu mereço estar. Retomo a consciência, respiro fundo, digo:

– Sim, acredito que parte disso seja mesmo. Mas não te disse isso para buscar responsáveis e sim soluções.

Num esforço enorme entre gerir as minhas emoções, refazer o arroz que já tinha deixado queimar e me atentar ao horário para buscar minha filha no colégio, ouço as palavras:

– Percebo que você está cansada. Olho para você e vejo o quão sobrecarregado está o seu semblante. 

E novamente me sinto tentada a voltar para o lugar da culpa. Um pensamento e uma sensação de que tenho me esforçado pouco, que estou perdendo a energia que eu tinha e conseguia administrar tanta coisa.

Mas como em um filme, me permito avaliar rapidamente o último mês. E nestes instantes a quantidade de atividades que fiz, sem realmente conseguir descansar o suficiente. Compromissos que foram se acumulando. Situações que me geraram desconforto sem ter a oportunidade de esclarecê-las. E ciente de tudo isso, consigo responder:  

– Verdade, que bom que você percebeu. Estou mesmo cansada.

E um alívio me abate neste momento. E agradeço a capacidade do meu corpo através do meu semblante retratar como estou me sentindo. 

E neste instante de alívio e relaxamento ouço novamente:

– A gente pode escolher descansar.

E assim, sou de novo convidada a ir para o lugar da culpa. E vem os pensamentos do tipo: como posso descansar se…

E emerge uma vontade de explodir… E dessa vez, explodir para valer. 

Mas eis que o relógio me salva e é hora de buscar minha filha na escola. 

E a frase retumba na minha cabeça. Posso escolher descansar. Posso escolher descansar…

Então, ao retornar para casa, enquanto almoço, converso calmamente com minha família. E busco encaixar na minha rotina, as minhas prioridades e o espaço onde consigo descansar. Escolho desfazer de um compromisso para isso.

E pelo menos hoje consegui não me importar com as vozes que ecoam na minha cabeça. Sei que nem todas são minhas, mas foram se fixando pelas minhas experiências.

Deixo somente uma voz ecoar, para que se fixe… Você pode escolher descansar…

Então me permito descansar e adormeço.

E acordo, com um beijo carinhoso, da minha filha, me chamado para levá-la para treinar

E enquanto ela treina, escrevo esta carta, para descansar. Descansar e acomodar todo o turbilhão de uma conversa intensa e produtiva.

Ainda cansada, porém um pouco mais leve, me despeço.

Com amor.

Tenho 47 anos e sou mãe de duas adolescentes, com 15 e 13 anos.


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