Mãezinha 

Ribeirão Preto, 08 de maio de 2023

Olá, mãezinha

A dor de uma mãe é uma força inexprimível, capaz de atravessar gerações e moldar destinos. Quando essa dor tem origem na criança interinamente ferida, na sensação de não ser ouvida e na negligência sofrida, os reflexos na criação dos filhos podem ser profundos e marcantes.

Essa mãe carrega cicatrizes invisíveis, frutos de um passado doloroso que pode ter sido repleta de desamparo emocional e ausência de afeto. Essa ferida, ainda aberta em seu interior, pode contaminar a forma como ela se relaciona com seus filhos, interferindo na maneira como os veem e os acolhem.

A negligência vivenciada pela mãe, quando sua voz foi silenciada e suas necessidades foram desconsideradas, pode gerar uma profunda insegurança e desconfiança. Ela pode projetar suas próprias feridas não cicatrizadas na relação com seus filhos, ora protegendo-os em excesso, ora se distanciando emocionalmente por medo de repetir os erros do passado.

Essa mãe, em sua dor, busca incessantemente proteger seus filhos, assegurando-se de que nunca passem pelas mesmas privações e sofrimentos que ela passou. No entanto, seu amor, por vezes, torna-se sufocante, tolhendo a autonomia e a liberdade para que eles desenvolvam sua própria identidade.

Os filhos dessa mãe, por sua vez, sentem o peso dessa carga emocional e carregam consigo as marcas da falta de escuta e atenção plena, desenvolvendo inseguranças e dificuldades para se expressarem, temendo ser ignorados ou não valorizados. 

Essa experiência pode impactar a forma como eles se relacionam com o mundo, perpetuando um ciclo de dor e negligência.

No entanto, apesar das sombras que envolvem essa história, é importante ressaltar que a superação é possível. 

A mãe ferida tem a capacidade de se curar, apoiando suas próprias dores e buscando apoio e acolhimento emocional. Ao reconstruir sua própria história, ela poderá ressignificar sua relação com seus filhos e oferecer a eles um ambiente de amor, escuta e respeito.

Uma jornada de cura não é fácil, mas é fundamental para interromper o ciclo da dor. É um processo de evacuação interior, que exige coragem, conveniência e disposição para enfrentar as feridas e transformá-las em aprendizado.

Que essa mãe encontre forças para curar suas próprias cicatrizes, para que seus filhos possam trilhar caminhos de liberdade sem maiores prejuízos, quebrando as correntes do passado e construindo um futuro de amor e compreensão. 

Essa mãe da história, é a minha, que veio a falecer no dia 30/04/2023 aos 74 anos de idade, repentinamente. 

Pude perceber que as dores dela, se fusionam com as minhas. 

Perdoar a mim, acolher a minha dor, foi o início de tudo.

Olhar para a dor da sua mãe e ou a dor de ser mãe, traz cura a sua criança ferida.

Por isso mãezinha, vou fazer diferente para ver a diferença.

E colher bons frutos dessa libertação dos ciclos viciosos do passado, que pode ser o ontem.

Mãe com 47 anos de três meninas (uma que descansa nos braços do pai, uma com 25 anos e outra com 4 anos).


GOSTOU DA CARTA E QUER ENVIAR UMA PRA GENTE?

Deixe um comentário