Os desafios das amamentações

Conselheiro Lafaiete, 14 de setembro de 2023

Querida mãe,

Como vai? Espero que esteja tranquila. Até o momento, durante a minha maternagem, o processo que considero de grande desafio e também de aprendizagem foi a experiência da amamentação.

Casada, gravidez planejada, nasceu minha filha… Tinha estudado bastante, inclusive sobre o aleitamento materno. Entendia os benefícios e na minha cabeça tinha um único caminho a ser seguido: primeiros meses, aleitamento materno exclusivo. Não tinha escolha mesmo, né, pois compreendia que o meu leite além de ser super saudável e necessário para a minha filha, o ato de amamentá-la representava momento de afeto e de aproximação entre nós duas, estreitando o nosso elo. Estudei o tempo de amamentação, intervalo, tudo na ponta da língua.

E dentro desta perspectiva, sai do hospital e fui para casa. Só que, a realidade é diferente da teoria, né? E nada funcionou. Tudo que eu havia estudado e planejado falhou, tornando o processo muito difícil. A minha filha chorava e chorava e eu a mantinha por horas e horas no meu peito, algumas vezes mais de três horas ininterruptas. Aqueles 15 minutos por mamada, esquece… E mesmo assim ela não ganhava peso e com um mês, estava com 2 kg, 80% do peso de nascimento. Eu, imaginando que tinha pouco leite, tomava plasil, fazia compressas, tentava e não percebia resultado.

Além disso, para mim, a sensação de amamentar era muito desagradável. Ruim mesmo, o peito doía muito, principalmente quando rachava, sentia a menstruação sair com mais potência e uma sede insaciável. Além de não poder sair do local onde estava por horas. E ainda por cima não tinha coragem de falar abertamente o quão ruim estava sendo a experiência para mim. Essa rotina foi me deixando cada vez mais exausta e intensificando outros sintomas do puerpério, como choro, falta de paciência, sensação de incapacidade e um certo desespero.

Passado alguns dias e ao perceber que a situação estava se agravando, meu marido, sugeriu intercalar a alimentação propondo outras maneiras e é claro, eu recusei. Mas ele fez um teste e escondido de mim a alimentou com fórmula infantil para lactentes.  Percebeu que a minha filha se acalmou e dormiu melhor. Ela dormindo melhor, eu também dormi melhor e o outro dia foi mais tranquilo para nós duas. Passamos então a alimentá-la também com a fórmula no copinho. 

E a assim a nossa adaptação foi acontecendo com mais sucesso. Descansava um pouco mais, insistia no aleitamento materno até um determinado limite. Passei a me sentir melhor. Passei a acreditar que o afeto também pode ser construído de outras maneiras. E adivinhe… Poucos dias depois, nos adaptamos e a necessidade de alimentação complementar foi diminuindo até acabar. E a minha filha foi ganhando peso. E o fato de amamentá-la chegou a até a ser prazeroso, fato que eu já desconsiderava possível no início.

Passei a ter outra interpretação da frase que ouvi algumas vezes: amamentar momento de amor. No meu caso, entendi que só o amor mesmo, que eu estava aprendendo a sentir por ela, que me fez persistir, dedicar, rever alguns conceitos e não somente o amor romântico prazeroso que eu idealizava. Hoje compreendo a importância de campanhas e mobilização para o aleitamento materno, pois se não tivesse tais conceitos, teria desistido, sem dúvidas.

Na minha outra gestação, eu saí do hospital consciente que poderia ter condições de amamentá-la ou não. E que isso, não me faria uma mãe pior. E adivinhem só? A amamentação transcorreu mais tranquila desde o início. Consegui amamentá-la integralmente. Claro que sentia os desconfortos iniciais, mas não me recordo de serem tão intensos e nem de ter que ficar horas e horas acordada a noite. 

Nesta minha experiência, aprendi que tornar um único caminho possível, embute uma pressão tão forte que inibe o atingimento de um objetivo maior ou deixa a jornada muito exaustiva, adoecida. Pensar em adaptações, opções me conforta, diminui a pressão interna. Afinal existem vários caminhos e a vida é mesmo feita de mudanças. 

Hoje em dia, penso sempre assim. Quero atingir esse objetivo e farei o meu melhor, mas se esse caminho não funcionar, ou se eu não for capaz, qual é o plano B, como posso adaptá-lo a realidade? Afinal, temos muito pouco controle sobre os processos da vida..

Com muito amor, me despeço.

Mãe de 46 anos, com duas filhas de 15 e 13.


GOSTOU DA CARTA E QUER ENVIAR UMA PRA GENTE?

Deixe um comentário