Uma carta, sentindo insegurança

Petrópolis, 17/07/2023

O tempo não para!  Sempre ouvi essa frase e sempre soube que era verdade, mas ela nunca fez tanto sentido como vem fazendo nos últimos cinco anos da minha jornada como mãe.  Passei por tantas lutas e obstáculos difíceis nessa caminhada, mas estava tudo bem, pois eu de se certa forma achava que tinha o poder e o controle em minhas mãos (como eu estava errada agora consigo ver), cada ano de vida dos meus filhos se resume em uma palavra ‘superação’, uma após outra sem ter tempo para parar e pensar no que vivíamos. 

O tempo passou tão rápido e agora ele é um adulto de 20 anos… cheguei na fase em que a mãe precisa empurrar o filho para fora do ninho para que ele possa voar sozinho.

Como é difícil assistir às frustrações dele e ter que transmitir força, até mesmo com frases clichês do tipo: vai ficar tudo bem, e assim mesmo no final tudo se acerta, etc.

Sim, eu acredito que essas frases sejam verdadeiras, mas as cicatrizes são inevitáveis, elas estão aqui, ficam bem escondidas, muitas não doem mais. Outras ainda sinto doer às vezes. Sou boa nisso, em esconder meus sentimentos e cicatrizes, para que eles não percebam que a mãe deles também sente medo, que a mãe não tem certeza se vai dar tudo certo… as inseguranças surgem por mais que eu tente evitar. É como dizem matando um leão por dia.

Não é fácil assistir à dor que ele sente com o resultado de uma prova de vestibular onde ele não obteve o resultado esperado, ver ele voltar para casa e dizer que mais uma vez não foi selecionado no processo seletivo durante a entrevista de emprego.

Que vontade de colocar ele novamente em meu útero por mais uns dez anos, talvez. Como isso é impossível, eu respiro fundo, faço minhas orações, acalmo o meu coração, então faço um café, um bolo (ele ama bolo), arrumo uma linda mesa de café da noite, rs, sim, da noite. Então sentamos e conversamos, eu com os meus medos e dores escondidos, cuidando das dores e medos dele. 

Sei que essa não é a melhor maneira para eu lidar com meus sentimentos, estou me negligenciando. 

 Então venho, lentamente confesso, trabalhando para não sentir mais vergonha das minhas cicatrizes, buscando entender as minhas dores.

Me amando para amar, me cuidando para poder cuidar.

É um trabalho diário e contínuo, mas sei que esse é o caminho que tenho que seguir.

Vai ficar tudo bem, pois sei quais foram as sementes que plantei e quais sementes eu venho regando até  hoje.

Mãe com 40 anos, filhos com 20  e 17 anos.


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