Mortes em minha vida! 

Ouro Preto, 27 de junho de 2023

Sabe! Fazendo um retrocesso… percebo que: 

Meus ancestrais muito influenciaram nos medos e forças que carrego. Quando minha avó paterna, Dona Chiquinha faleceu, eu era adolescente e ao saber eu disparei a correr para a casa da minha amiga Celina, chorei e fui amparada… percebi que corri riscos ao sair desenfreada e que não precisava daquilo tudo… Meu pai no sepultamento, com muita calma, disse assim: “não precisa de escândalo para mostrar o que se sente. A sua dor não precisa ser vista como maior que a de outro”.

Já meu avô Quincas me deixou lembranças de travessuras de infância e minha Avó Dina, muito esperta, pais da minha mãe, faleceu quando eu estava com 18 anos. Ela com Alzheimer e por muitas vezes pregando sustos na gente ao tocar disparadamente a campainha ao lado da sua cama, para nos chamar atenção. Lembro muito de ajudar minha mãe a dar banho nela e a perceber cada vez mais velhinha e fraca, a ponto de necessitar por sonda nasogástrica para se alimentar, o que me mexeu comigo como técnica em laboratório de Análises Clínicas e, no seu velório, minha mãe quase desmaiou e lá fora havia risadas de parentes que mesmo muito tristes, se consolavam…

Mas outras posteriores, vem agora com mais intensidade de sentimentos e resgates na minha memória: Mortes.

  1. Quando o Inho (Fernandinho) morreu eu fiquei revoltada com Deus! Afinal ele tinha apenas três anos.
  2. Quando o Bil morreu armazenei uma tristeza e revoltei com o ser humano 
  3. Quando a Celina se foi, senti a vida ficando curta, estranha…
  4. Quando meu Pai Cipriano morreu, me senti forte e me vi acolhida por pessoas que não esperava… Senti esperança na vida! Papai Grande!
  5. Quando minhas tias se foram senti mistura de sentimentos e saudades!
  6. Quando minha Mãe Inêz se foi senti o mundo ruir… parte de mim se endureceu! Um luto sem fim. Mamãe Fortaleza!
  7. Quando o Coutinho, amigo, partiu na pandemia, senti indignação e olho ainda mais para seu Pinheiro crescendo rumo ao céu. 
  8. Quando o Vavá (Ivar) faleceu agora há 2 meses… senti uma Fé imensa me envolver, um porque maior na Vida, em viver o aqui e agora com amor, um sem esperar acontecer. Deus fortalecido dentro de mim. Uma revisão de valores e busca de estabilidade emocional, visão clara de incertezas na vida! 

Assim… Nos meus 63 anos, percebo que vivi 9 ciclos de 7 anos! Cabalístico! Completo! Me vejo madura, mais pronta para envelhecer com leveza, em busca de mais sabedoria e vivenciando mais experiências (ainda com medo de fazer escolhas, até das palavras a serem usadas… à novos rumos ou estabilidades) e no meio da busca do “reequilíbrio” (existe?), o andar na corda bamba, me faz olhar para meus medos e inseguranças, esse egoísmo excessivo, me fazem refletir.

E, me deparo agora, com meus dois filhos, protagonistas das suas histórias, vivendo no exterior (New York e Berlim), longe de mim, perto do meu coração de um jeito bem diferente dos meus parentes e amigos que trago apenas na minha alma. São possibilidades infinitas de sentir o amor! Filhos, “ eu libero vocês de todos os padrões repetitivos da nossa família. ” E eu sigo em frente, desacelerando para ver coisas não vistas, e na busca de momentos marcantes para um final ainda mais feliz! 

Irene Ri, 63 anos – Mãe de dois filhos. Carta escrita em dois tempos: 20/05/2023 e 28/06/2023.


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