Construindo o acolhimento das escolhas dos filhos

Conselheiro Lafaiete, 22 de junho de 2023

 Como vai, querida mãe, espero que esteja bem.

Hoje amanheci assim, sabe dividida. Uma sensação de dualidade, o que não representa nenhuma novidade para o universo materno, não é mesmo?  Mas é tão engraçado e curioso, pois quando estou vivenciando a situação, ela sempre me parece tão única. 

A situação que me levou a tal estado foi a escolha em apoiar uma decisão da minha filha. A impressão que eu tenho é que essa escolha, em específico, proporciona mais momentos de tristeza e de frustração do que de alegria para a vida dela. Momentos estes traduzidos em choros, isolamento, agressividade. Como se trata da primeira vez que vivencio esta situação, me sinto geralmente sob estado de alerta, sabe?

Por inúmeras vezes, a minha vontade é de colocá-la contra parede e forçar, de forma agressiva e violenta, o posicionamento que eu julgo ser o correto. Sabe, sou dessas da ação. Tem que resolver, bora resolver já…  

Mas aí, me vem o pensamento que o processo de crescimento, amadurecimento não é meu. Talvez essa minha aflição venha das experiências, como essa, que eu vivenciei no passado, onde aprendi a perceber tudo isso e a resolver logo. Aprendi neste tempo. Mas não se trata de mim. Então, eu busco juntar todas as minhas forças para tentar controlar a minha ansiedade e minha aflição, e transformar em acolhimento para ouvi-la. Confesso, com dias que é muito cansativo, mas hoje, percebo o quão paciente eu consigo ser. Tem dias, claro, que perco totalmente a paciência, mas estes, tem se tornado cada vez mais escassos.   

Passei a entender a importância de proporcionar a ela essa liberdade, com certos limites, claro. Utilizando a metáfora que ouvi da psicóloga Carolina Dantas, coautora do livro Meu Adolescente, nós, pais, somos as margens que limita o rio no seu curso, representando a vida dos nossos filhos. E por meio de conhecimentos advindos das comunicações não violenta, busquei mostrar para ela, os dados e os fatos que ela estava vivendo, buscando eliminar ao máximo os julgamentos, na tentativa de ser essa margem. Ela geralmente ouve e se mantém calada. Eu e meu marido sofremos, sabe, e o que nos conforta é entender que essa situação é importante para ela amadurecer. É complicado passar por isso. A sensação de presenciar com certa frequência o sofrimento dos filhos é algo que nos tira o sono. Mas é também na madrugada que construímos os nossos momentos de partilha. 

E assim seguimos. Tenho desconstruído a crença de que a calma é mais útil na infância do que na adolescência. Puro engano. Estou chegando à conclusão de que ela atravessa todos os ciclos do desenvolvimento dos filhos e por incrível que pareça, para mim, talvez seja um dos pilares para manter a conexão viva com os filhos. Calma em entender a hora de acolher, calma para dizer o que precisa ser dito, calma para esperar os frutos plantados germinarem. E assim sigo, aprendendo a ser cada vez mais calma, e quando não sou, reconhecendo que também não sou de ferro. 

Com muito carinho, 

Sou mãe de duas adolescentes com 15 e 12 anos e tenho 46 anos. .


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