Acordos e esquecimentos

Conselheiro Lafaiete, 15 de março de 2023

Querida mãe, como vão às coisas por aí?

Por aqui, uma dificuldade muito grande em aceitar o jeito e o tempo da minha filha para fazer as atividades, tanto escolares como de cuidado com a casa. Ela se queixa muito que eu falo demais. Será? E neste aspecto, meu marido também concorda.

Aí, sabe, eu procuro não falar tanto. E acho que de uma certo forma, vou deixando acumular coisas importantes. Por exemplo, se elas deixam de fazer alguma coisa, eu não falo e deixo para ver se elas percebem. Se elas deixam de fazer de novo, não falo de novo… Só que aí, chega em um ponto que eu não dou conta e solto tudo de uma vez. Ah! “falazada” danada mesmo. Uma confusão total.  

Na semana passada, quase diariamente eu a lembrava dos deveres de casa. Até que um dia, ela me disse:

– Mãe, por favor, para de me cobrar os deveres de casa. Você deseja que eu tenha responsabilidade, né? Então não fala mais nada, eu consigo.

Então, fiquei assim três dias sem falar nada a respeito das atividades escolares. Foi difícil passar na sala, vê-la vendo televisão ou ao celular e permanecer assim, caladinha.

Neste período, ela me disse:

– Nossa mãe, está tão bom fazer as atividades sem pressão!  

Foi aí que pensei, bacana, acho que está funcionando, valeu meu sacrifício. Então, no quarto dia, chega um bilhete da escola dizendo que ela havia esquecido um dever.

Ao mencionar para ela este fato, eis que ela responde:

– Uai, mãe, esqueci. Todo mundo esquece, né? Então eu esqueci. Mas olha aí quantos dias eu consegui fazer sozinha

Aí, de novo, me pego novamente pensativa. Falo ou não falo? Cobro ou não cobro? Se alguém souber como devo proceder, me diga. Seria tão bom acalmar a minha mente e deixar minha filha assumir seus compromissos sem falação na cabeça, né? Ela já me disse que essa “falazada” aumenta a pressão e não a ajuda a se concentrar. E mesmo assim, eu ainda não consigo em todos os momentos.

Ao escrever essa carta, percebi o quanto nossos comportamentos são mais parecidos, muito mais do que eu imaginava. Enquanto ela esquece algum dever, ou seja, o compromisso dela com a professora, eu também esqueço do meu compromisso com ela. E pensando assim, quem sabe quanto menos eu esqueça, menos ela esqueça também. Bom, essa será a minha proposta de agora para frente.

E assim, seguimos, entre compromissos e esquecimentos, ajustando e tentando compreender e respeitar os nossos tempos e nossas necessidades.

Com amor,

Cristina, mãe de duas, com 14 e 12 anos.


GOSTOU DA CARTA E QUER ENVIAR UMA PRA GENTE?

Deixe um comentário