Importância do acolhimento

Conselheiro Lafaiete, 15 de setembro de 2022

Querida mãe em construção,

Espero que esteja bem. 

Hoje meu coração está dolorido. Muito dolorido. Não sei bem explicar em qual sentido dói mais. Mas vou tentar. Ontem, enquanto eu e minhas filhas estávamos desenhando na cozinha, soubemos da notícia que uma aluna, da mesma escola de uma delas, cometeu suicídio.

Quando soubemos da notícia, nós três ficamos assim, paralisadas, mudas. Por alguns minutos não sabíamos o que fazer, como agir, estávamos tentando digerir e de fato entender o que estava acontecendo. Apesar de não conhecermos pessoalmente a menina e a família, sentimos como se fosse de casa. 

Inicialmente senti uma compaixão enorme para com essa mãe. Acredito, mesmo, que eu não tenha a capacidade de imaginar a intensidade dessa dor. Na semana passada havia lido um livro chamado a geração do quarto, que descreve as características de adoecimento de uma geração de adolescentes que se refugia no seu quarto, com uma dor existencial profunda e às vezes com desejo da própria morte. O livro descreve uma pesquisa feita em 5 capitais brasileiras, com mais de 3.000 respondentes, onde foi identificado um “grupo de meninos e meninas de 11 a 18 anos, frágeis emocionalmente, com sérios problemas de convivência entre seus pares e com os adultos com os quais convive.” 

O fato confirmou algo que eu já imaginava, mas não queria assumir. Essa não é a realidade das cinco capitais brasileiras, é uma realidade global. De capitais, de cidades do interior, da zona rural, esse grupo está aqui, está aí. Nosso mundo está cada vez mais globalizado. E minha família, minhas filhas estão também imersas neste contexto. 

Aí, então veio o medo. Um medo enorme tomou conta de mim, principalmente em relação as minhas filhas. Pois é fato, que, na realidade, não tenho controle do que se passa na cabeça delas, nos pensamentos delas. E essa fase da adolescência, da descoberta, da mudança, tudo é novo, instável, incerto. Acredito que elas não sejam assim, tão diferentes dessa menina que não suportou a sua própria dor. 

Então me pego pensando, o que fazer com esse meu medo? O que fazer com essa sensação de incapacidade, aliada a responsabilidade de ser mãe? Bom, o que fiz foi mesmo assumir minha fragilidade, minha vulnerabilidade. Falei para elas do meu medo e expliquei que eu acredito. Eu disse a elas que as pessoas não querem a morte, mas sim, se livrar da dor. E que não existe diferença de dor, dor é dor e precisa ser tratada e o primeiro passo é o compartilhamento.  

Informei a elas que não precisa ser comigo, pois muitas vezes é muito difícil compartilhar certos pensamentos, certas sensações com a própria mãe. Mas que, quando elas tivessem se sentido sozinhas, tristes, incomodadas, perdidas, que elas compartilhassem com alguém. E então, nós elencamos algumas pessoas nosso convívio que confiamos. E assim firmamos o nosso acordo.

Depois conversamos um pouco mais sobre isso. Como devia estar difícil para a família, para os amigos, para os colegas de classe, para os professores. O que será que podemos fazer para dar mais acolhimento? Como podemos ser mais receptivas com nossos amigos, irmãos, pais? O que é preciso fazer para acolher ao invés de repulsar? 

E assim, continuamos a nossa conversa trazendo as perguntas para nós mesmas, para o nosso núcleo familiar. Então passamos a refletir sobre: O que as faz sentir acolhidas? Como podemos melhorar o acolhimento na nossa casa, na nossa família? 

 E neste clima de tristeza, reflexão e também de esclarecimentos, me despeço.

Nívea Viana, mãe de duas filhas, uma de 14 e outra de 12.


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