Amor em construção

Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2022

Em meados de 2012 estava vivendo um dramático fim de relacionamento que me consumia emocionalmente. Me sentia arrasada, fraca e triste. Era como ser uma sobrevivente de uma queda das montanhas andinas. Nessa época, trabalhava (pelo menos 9h por dia), dispendia cerca de 4h diárias no deslocamento casa-trabalho e, simultaneamente, participava de um processo seletivo de mestrado internacional. Minha cabeça estava rodopiando e nesse sufocante contexto, descobri uma minha gravidez de quase 3 meses.

No primeiro momento senti uma mistura de sentimentos e o choro foi a única forma que consegui me expressar, um choro desesperado.  Por um lado, já havia feito 30 anos e deseja um filho, por outro, meu casamento estava desmoronando e essa situação não chegava aos pés dos meus sonhos de maternidade.

Mergulhada nesse lago de sentimentos controversos, vivenciei o desenvolvimento daquele início de vida dentro de mim. Senti que apesar dos dilemas, dos meus choros no fim do dia, da falta de um abraço, algo estava acontecendo e me sentia mais forte, corajosa e renovada. A gravidez inesperada trouxe-me uma volutuosa dose de energia. Me senti viva!

Durante a gravidez, curtia ver a vida se desenvolver, a barriga crescer e Lucas se movimentar intensamente, um jogador de futebol nato. Era emocionante! Diariamente, pelas manhãs, cantarolava para ele, às vezes, músicas da minha infância, bossa nova, gospel, samba… Me alimentava bem e reaproximei da minha família.

Quando a gravidez estava avançada, para lá do 7 mês, uma amiga me disse algo que achei muito estranho. Ela alertou que o famoso, gigante, estupendo “amor de mãe” não nasce na gravidez nem no parto. Ele é uma construção, um amor progressivo que aumenta a cada dia. É alimentado pela convivência, pela doação, pelo acompanhamento dos desafios e das conquistas. Isso me assombrou. Porque naquele instante, jurava que já tinha muito amor pelo meu filho. 

Lucas nasceu na exata 40º semana de gestação. Um menino saudável, grande, que, lentamente, foi se acostumando com esse mundo novo que se descortinava para todos nós. Nos primeiros momentos, meu principal sentimento era a responsabilidade de cuidar de alguém tão frágil, tão pequeno que não conseguia se expressar por palavras e gestos e que, independente e inconsciente do ambiente que estava, ele exigia seu alimento, seu acalento, chorava suas dores e lutava para se adaptar a esse mundo mais movimentado, barulhento e iluminado.

Após o nascimento do primogênito, houve uma revolução em nossa casa. O casamento finalizou, de vez, e me vi cuidando de um bebê de dois meses. Meu filho chorava absurdamente, tinha cólicas intensas e sono escasso, consequentemente, os primeiros meses foram exaustivos.

Simultaneamente, Lucas era um acalento para meu coração abalado, sua fragilidade, seu cheiro, seu desenvolvimento traziam uma paz que me erguia. E apesar da insegurança comum às Mães (recentes e as outras também), as mudanças me trouxeram calma, conexão comigo mesma e com a nova vida. E gradualmente, a harmonia foi se assentando em nosso lar. 

Aqui, vale um parêntese, pois não tenho a pretensão de romantizar essa tal harmonia. Ressalto que ela está longe de ser plena, ao contrário, ela é dinâmica e vamos nos esforçando para mantê-la ou até mesmo, alcançá-la, quando, momentaneamente, nos desconectamos de nós mesmos e/ou da nossa relação como família.

E hoje em dia penso… Como fica esse famoso, gigante, estupendo “amor de mãe” que, segundo minha amiga, não nasceu na gestação nem no parto? 

Ainda, acho difícil mensurar o tamanho desse amor de mãe, porque ele continua em construção… Hoje, Lucas tem 9 anos. E para mim, esse amor de Mãe poderia ser representado pelo desenvolvimento das raízes de uma árvore frondosa, isto é, a cada dia, as raízes (e o amor) se tornam mais firmes, fortes e profundos. Não há limites. 

No cotidiano, vivencio com Lucas as mais diversas formas de expressão do amor de Mãe, também, me tornei apta para reconhecer as formas de amor que minha Mãe expressava… Essas formas de amar vão desde aquele olhar confiante incentivando-o a seguir em frente, o preparo da sua comida preferida, o afago despretensioso no intervalo do desenho animado, a proteção do frio em um dia nublado, a calma para ajudá-lo na assimilação das frustrações, os conflitos que geram oportunidades de crescimento, as conversas sobre os futuros planos e sonhos e tantas outras coisas que não cabem nessas páginas…  

Sobretudo, sigo feliz por estar imersa em um oceano de amor e (auto)conhecimento. Um mergulho que me mostra como o mesmo mar pode ter uma dimensão colossal, diversas cores e tonalidades, diferentes níveis de transparência e profundidade.  Mas, ainda assim, é o mesmo oceano. 

Dessa forma, acredito que imenso assim, é meu amor e respeito pelo meu filho, Lucas.

Com amor.

Janaina


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