Adolescentes precisam de espaço

Conselheiro Lafaiete, 05 de novembro de 2022

Querida mamãe,

É muito curioso como acontece o crescimento e o desenvolvimento dos filhos né? Aqui em casa a chegada da adolescência de uma das minhas filhas aconteceu no meu momento de decisão de transição de carreira… Momentos difíceis, né, para nós duas… 

No meio de tanta confusão, euforia, medo e angústia, sentimentos envolvidos nesta decisão pessoal e profissional, eu não vi que minha filha também passava pelo seu momento… E nesta minha aflição toda, de uma hora para outra, virei uma chave no meu comportamento com ela, pensando, poxa, ela já está com 10 anos, já pode fazer muita coisa sozinha. 

E assim o fiz. Hoje, repensando sobre o assunto, acredito que talvez tenha sido muito rápido esse processo. De repente, a mensagem de que ela já não era mais criança foi passada e acredito que ela acabou assumindo esse papel. E sim, funcionou. Ela passou a assumir uma série de responsabilidades. Mas também teve um preço, ela foi se afastando, gradualmente… Foi se afastando e eu na rotina, no automático, não percebia e, no fundo, estava feliz com o resultado. Ela passou a assumir mais coisas, o que me deixou, de uma certa forma, com mais tempo para cuidar das minhas coisas. E segui assim, sem perceber o que estava de fato acontecendo. 

Até que comecei a sentir o seu afastamento, que hoje, tenho consciência que também foi um reflexo do meu. Imaginem, para eu perceber, ela já estava bem isolada. E aí, foi que compreendi que ela se afastou de mim e se aproximou mais do meu marido. Eu sentia que ela me repulsava. Reconheci que ela não permitia que eu me aproximasse dela. Quantas vezes chegava perto para beijá-la e ela se afastava, tirava o rosto, fazia caretas e me xingava. Quantas vezes, acordava de manhã, lhe dava um sorriso, esticava os braços pedindo um abraço e ela passava por baixo dos meus braços e continuava com a sua própria rotina, ainda séria.

Pouco tempo depois chegava perto do meu marido, o abraçava e o acariciava. Eu me sentia arrasada. Ah, e como doía. Esse chamego todo com ele e comigo, palavras grosseiras, caretas… Entendo que essa atitude não estava funcionando e resolvi tentar outra estratégia. Foi então que passei a me aproximar dela de outra forma. De uma forma mais natural e menos impositiva. Às vezes, chegava perto, só acariciava seus cabelos, desejava bom dia e me afastava. Quando queria um abraço ou um beijo de verdade, pedia permissão. Se ela deixasse, eu a beijava e se não, me afastava. No começo, me afastava ressentida, mas com a prática, passei a me afastar mais tranquila, sem mágoa. Percebi ser importante me fazer presente, mas não tão presente, pois a presença demais poderia sufocar. Precisava também dar espaço para ela vir a minha procura. 

Procurei tirar um tempo para ficar com ela. Às vezes ficava assim, quietinha ao lado dela. Ela se irritava no começo, mas logo em seguida começava a conversar comigo e contar suas experiências. Depois de um tempo, eu saia. 

Não foi fácil. Foi um processo desafiador e lento. E lentamente, eu fui percebendo que ela começou a se aproximar de mim. Em casa, ainda era raro, mas quando estávamos na casa dos avós, por exemplo, ela ficava me rodeando e quando eu menos esperava, me abraçava. Às vezes se sentava no meu colo. Por vezes me surpreendia segurando a minha mão. E eu comecei a entender que a nova estratégia estava funcionando. Eu passei a dar espaço para ela vir até mim, e quando acontecia, eu a acolhia com amor. 

E o meu auge, foi quando, ela, aos quatorze anos, estava voltando de uma excursão escolar, na frente dos colegas de sala e dos professores, desceu do ônibus e ao me ver, veio correndo e me deu o maior abraço. Eu quase caí, pois não esperava essa reação. Minha filha adolescente, assim correndo como uma criança para me abraçar na presença de tanta gente? Aí, sim, eu fui as nuvens… Me senti tão amada e querida, com um sorriso bobo no rosto que ao relatar para você aqui hoje, ele teima em aparecer e permanecer, aquecendo meu coração.  

Nívea, mãe de duas adolescentes de 14 e 12 anos. 


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