Aprendendo a me valorizar

Conselheiro Lafaiete, 26 de maio de 2022

Querida mamãe,

É tão interessante compreender e tomar a consciência das questões que ocorrem no nosso dia-a-dia, né? E me impressiono, toda vez que isso acontece, geralmente nos pequenos detalhes, mas que fazem toda a diferença no meu comportamento. Hoje venho relatar a respeito de receber elogios. Me conta aí, você, mãe, já parou para pensar como você recebe elogios? Afinal, eu acredito que saber receber elogios é sinal que nos valorizamos, né? E quando nos valorizamos, estamos também, ensinando nossos filhos a se valorizarem, né? Bom, eu confesso que não sabia e estou começando a aprender agora.

Vou contextualizar, aqui… Na semana passada fui participar de uma conferência em Petrópolis e pela primeira vez tive a oportunidade de falar em público, como palestrante neste meu novo ramo profissional, em outra cidade. Claro, fui inclusive divulgar esse projeto, o Diário da Mãe em Construção.

Me preparei, ensaiei bastante, tudo certo. Meu núcleo familiar estava lá comigo, assistindo, torcendo, participando. Subi ao palco e apresentei. Quando terminei e desci do palco, minhas duas filhas vieram me receber com abraços calorosos, dizendo, mãe, você estava linda!!!

Neste momento, passou pela minha cabeça um monte de coisas que eu tinha percebido que não estavam muito bem, ou melhor, que fugiram do meu planejamento inicial. Uma série de coisas pequenas, que iam desde a uma meia-calça desfiada, palavras não ditas, informações esquecidas, algumas gagueiras. Engraçado, né, lá estou eu buscando essa tal perfeição, esse tal controle… E nesta busca por algo inexistente, encontrei, claro as ausências, os erros, frustrações… E estava nelas, quando pensei em responder:

– Que isso filhas, minha meia tava furada, eu esqueci de falar e blá..blá..blá…

Imediatamente me veio também a mente um momento do passado, quando eu tinha a idade delas. Lembro que estávamos no carro, não lembro ao certo o que aconteceu antes, mas eu estava admirada, encantada, entusiasmada e disse para a minha mãe:

– Mãe, quando crescer, quero ser como a senhora.

E ela me respondeu:

– Como assim, gorda. Você quer ser gorda, filha?

Naquele momento, me senti murchando completamente. Uma sensação de incompreensão, sem saber muito bem o que estava rolando. O que eu via na minha mãe naquela momento, era uma mulher linda, feliz, que me passava orgulho e vontade de ser igual… Admiração da maneira mais plena… E ela, muito diretiva e objetiva, simplesmente me fez sentir que isso não poderia ser objeto de desejo. Sei que não foi por mal, e imagino que ela estivesse, naquele momento, muito frustrada com o corpo dela. Talvez nem fosse por ela, mas pelo que ela ouviu no decorrer de sua história a respeito de beleza. Mas não sei dizer, lógico. O fato, é que sim, me senti pequenininha, sabe, do tamanho de um tatu bolinha todo enroladinho no sofá do carro. Tão curioso, que ao escrever e contar essa história, sinto as mesmas sensações, como se o tempo tivesse congelado esse momento.

E por um segundo, pensei, vou também me desvalorizar, agora que tenho consciência disso tudo? Vou também destruir essa imagem construída pelas minhas filhas, mas também reflexo do meu esforço nas últimas semanas? É isso mesmo?

Então, olhei no fundo dos olhos das minhas meninas, naquele momento e no meio daquele abraço caloroso e daquele turbilhão mental, busquei me certificar:

– Vocês acharam mesmo, filhas?

Elas disseram:

– Sim, mamãe, você estava linda!

Abri então um sorrisão, acolhi de uma forma tão intensa aquelas palavras, que os blás, blás, blás que perambulavam na minha mente, foram ofuscados e me senti assim, linda… Emocionada, respondi:

– Obrigada, filhas!

Ah, e assim, estou aprendendo a me reconhecer. Estou aprendendo a ser elogiada. E como é gostoso, viu? Tão intrigante como, muitas vezes eu não consigo enxergar o que está presente, o que está ali. Teimo em focar a minha atenção no que falta, no que está ausente. E é tão certo que sempre faltará algo, assim como é tão certo que sempre haverá algo presente… E o que está presente, é o que me torna quem eu sou… Neste clima de descoberta e construção, sigo aprendendo…

Na esperança de que eu consiga enxergar o que está presente cada vez mais, me despeço.

Com amor,

Nívea, mãe de duas filhotas, de 14 e 11 anos.


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