Ser mãe é uma graça

Blagnac, 9 setembro de 2022

Querida e estimada mãe,

Através desta carta vou contar como alcancei este dom.

Quando fiz 40 anos, estava sozinha e não acreditava que encontraria meu amado e falava “casar não vou mesmo”. “Filho, já passei da idade.”

Minha história mudou no dia 15 de novembro de 2002.

Estava com uns vizinhos em um bar, quando me convidaram para ir numa festa de jovens. Fui por insistência deles. Nesta festa conheci Henrique que também foi sem programar, a convite de irlandeses que estavam hospedados na mesma pousada.

Quando cheguei na portaria, o jovem proprietário me disse: “Você não esquecerá nunca desta festa!” Realmente não esquecerei!

Henrique estava de passagem em Ouro Preto. A história é grande e se detalhar vira livro. Ficamos dois meses juntos. Em janeiro de 2003 voltou para França, seu país, mas 9 meses depois estava de volta. Deixou seu trabalho na aeronáutica e veio com projeto de ficar em alguma ilha na Bahia.

Perguntou se eu teria coragem de seguir seu caminho. Como já tinha recebido a flecha do cupido deixei trabalho, família e amigos e segui meu destino. Casamos primeiro de abril de 2004, casamos sozinhos em Salvador. Muitos acharam que era uma braga, foi uma mudança radical na minha vida.

Fomos morar em Boipeba. Henrique Comprou um barco de pescador para começar uma outra vida .

Conversamos e decidimos tentar minha gravidez, pois não estava muito jovem. Não tive problemas para engravidar. Foi uma alegria quando recebemos o resultado. A gestação correu bem até o quinto mês, mas no sexto mês, 9 de dezembro, ocorreu um sangramento que tive que sair em urgência para Valença. Uma hora de lancha rápida.

Foi longa a viagem, mas Henrique estava do meu lado. Fiquei dois dias hospitalizada e o médico nos aconselhou de não voltar para ilha. Alugamos uma outra casa em Valença. Minha mãe veio ficar comigo, ela foi o meu socorro.

Chegou dia 27 de dezembro. Nós três passamos a festa de réveillon juntos em Valença e como eu estava bem, Henrique voltou pra Boipeba.

8 de janeiro, de manhã, eu e mamãe fizemos uma caminhada. Depois do almoço fui descansar. Acordei com mal estar, muita náusea e sem cor. Mamãe viu que teria que ir para o hospital. Cheguei no pavilhão da maternidade quase desmaiando. As enfermeiras foram eficientes, me colocaram numa maca, mediram minha pressão e constataram que estava muito baixa. Duas ficaram do meu lado me questionando para eu não dormir. A terceira enfermeira foi buscar o médico que terminava um parto. Ele também chegou fazendo as mesmas perguntas.

Examinou e me e disse que eu e o bebê estávamos correndo risco de vida, que a preferencia seria salvar a minha.

Que tristeza! Senti que a oportunidade de ser mãe terminaria ali. Confiei a Nossa senhora. O médico me colocou no oxigênio para estabilizar meu estado, recuperei e ele fez a cesariana. Angelo nasceu de 7 meses, com 2k e 50g e 45 cm.

Quando escutei seu choro e a enfermeira trouxe aquele pinguinho de gente para eu conhecer, minhas lágrimas secaram e meu sorriso voltou. Ele passou uma noite na incubadora e eu fui para o quarto para receber transfusão de sangue. Na manhã seguinte ele estava do meu lado, sem risco, eu também e sem transfusão.

Foi uma alegria tão grande que não sei como definir quando peguei ele nos meus braços para amamentar.

Após o risco nesta gravidez eu e Eric evitamos tentar outra. Angelo hoje está com 17 anos, é um ótimo filho e seguiu um bom caminho. Deixamos ele livre para escolher seu país. Mas hoje está empenhado para entrar na Universidade no próximo ano.

Nosso projeto no Brasil não deu certo, vendemos a casa, carro e barco e viemos pra França em 2007. Henrique voltou a exercer sua profissão e eu trabalhei na animação em escola infantil alguns anos. Mas continuamos nosso sonho de voltar para o Brasil.

Um abraço atencioso,

Marília 60 anos, Henrique 49 anos, pais de Angelo de 17.


GOSTOU DA CARTA E QUER ENVIAR UMA PRA GENTE?

Deixe um comentário