Congonhas, 21 de setembro de 2022.
Queridas mães,
Quando me foi solicitado escrever sobre minhas experiências enquanto filha, tentei pensar arduamente sobre alguma situação específica com minha mãe e não consegui. Até que, nesse processo todo de ir para o exterior, consegui visualizar um momento muito íntimo que passei com ela.
Minha mãe é uma mãezona, super protetora desde que nasci, sempre muito preocupada com meu desempenho e sobre como eu lidava com os problemas da vida. Devido a isso, eu cresci com muito medo de errar, de não corresponder às expectativas dela e por incrível que pareça, eu segui o mesmo percurso dela, me formando em letras e me inspirando cada dia mais em sua maneira de ministrar as aulas.
Quando soubemos que eu havia passado para ir para Portugal, recebi a notícia sozinha, sem ninguém em casa e a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi “como vou contar isso pra minha mãe?” e sem matutar demais, liguei correndo pra ela e já falei logo de supetão. Foi um misto de sentimentos, afinal, eu nunca sai de casa, fiz faculdade em Congonhas e sempre tive pavor de me afastar dos cuidados da minha família. Ela tentou (eu sei o quanto foi difícil) ficar feliz quando eu liguei, mas ela não conseguiu esconder a voz embargada, a cabeça a mil… Eu pensei em mim, em meus problemas e esqueci da dor que minha mãe estava sentindo por ter que se despedir de mim (mesmo que por pouco tempo).
Ela tem tentado deixar claro todos os conselhos que ela acha válido e isso é muito engraçado. Parece uma criança quando vai dormir na casa da colega e liga de madrugada pedindo pra ir embora.
É difícil criar coragem de ir quando a pessoa que você mais ama se demonstra instável com sua partida. Logo ela tão forte! Com um aperto no coração eu vou deixá-la, mas com a certeza que será essência para o nosso crescimento individual. Sei que somos uma extensão uma da outra, mas aprender a atender as necessidades da vida faz parte e está sendo um grande processo compreender isso. Me despeço ansiosa pela viagem e com saudades antecipadas da minha mãezinha.
Com amor,
Isabela.
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Diário da Mãe em Construção 