Mãe de todo mundo

Conselheiro Lafaiete, 04 de julho de 2022

Querida mamãe,

Espero que esteja bem. Hoje, começo o dia refletindo sobre as inúmeras vezes que eu quis ou tentei ser mãe de todo mundo. Me conta aí, você já se sentiu assim, impulsionada a ser mãe de irmão/irmã, marido, amigos, tios, inclusive dos seus próprios pais? Eu, inúmeras vezes, já me atrapalhei e acabei incorporando o papel de mãe para um monte de gente.

Sou filha mais velha e talvez isso explique ainda mais… Me lembro, que desde nova, eu ouvia uma frase repetidamente em vários contextos: cuide de seus irmãos.

Se meus pais precisavam sair, lá vinha: cuide de seus irmãos. Se íamos juntos para a escola: cuide de seus irmãos. Se saíamos para brincar: cuide de seus irmãos. E eu acho que acabei generalizando isso, expandindo para outras relações.

Algumas vezes esse cuidar vem regido por regras e dentro de uma estrutura fixa moral e pessoal do que é ser certo e errado. Sob essa ótica, acabou ganhando um viés autoritário. Outras vezes o cuidar vem de um lugar de superproteção, que sufoca e que de uma maneira ou de outra acaba sendo compreendido como falta de confiança ou falta de credibilidade na capacidade do outro.

Aí que a confusão se arma e que as relações se conflituam, além de eu me posicionar em um lugar que não é meu, trago para este papel algumas convicções e conceitos que muitas vezes desrespeitam ao invés de acolher, julgam ao invés de entender, afastam ao invés de aproximar.

E ao fazer hoje, uma releitura de muitas situações de conflito vividas, enxergo que, algumas delas, passaram por essa confusão. Me vejo no papel de mãe dos meus irmãos, dos meus pais, do meu marido, e em alguns casos, até de alguns amigos mais próximos aos quais estimo.

Como é fácil, sair do meu papel de filha, irmã, esposa, amiga e migrar para o lugar de mãe… É claro, que eu também tenho minhas apostas pessoais ao ir para este lugar. A vontade de ser reconhecida, querida e amada como mãe. Acredito que a minha experiência é valorizada ao ponto de criar uma falsa impressão de ter vivido situações suficientes na vida, para saber o que é certo e o que é errado e de não querer ver outras pessoas, que tanto amo, passarem pelo que eu passei. Uma mãe, que certamente, teme o sofrimento daqueles que lhe são raros e preciosos e busca poupá-los. Mas o fato, é que sem querer e de alguma forma, esse comportamento acaba impedindo o desenvolvimento e o aprendizado de todos os envolvidos.

Além de trazer para mim um peso maior do que a situação se apresenta e do que deveria ser. Ao invés de ficar somente com a responsabilidade pelo meu papel na relação, eu trago culpas, trago desconfianças, trago frustrações, trago raiva… E assim, questões que poderiam ser resolvidas em um ou dois dias, passam a durar semanas, meses e quem sabe até anos, como consequência dessa infeliz confusão de papéis.

Hoje, estou começando a entender como diferenciar tudo isso… E quero me policiar, para quando, as situações começarem a sair do controle, me tirar do meu eixo, eu me perguntar:

– Qual é mesmo o meu papel nessa relação e nesta situação?

Eu quero mesmo é ser, quando necessário:

– A irmã que ajuda o irmão;

– A filha que cuida dos pais;

– A esposa que acolhe o marido;

E para as minhas filhas, a mãe que orienta, acolhe, ajuda, cuida, esteja presente…

Pois, o contrário também acontece, as vezes, ao ser mãe de outros, acabo deixando de ser mãe das minhas próprias filhas.

Nesta confusão de reflexões e de papéis, me despeço na esperança de conseguir clarear mais os meus papéis e minhas responsabilidades nas relações, devolvendo para aos outros, os papeis e responsabilidades dos outros, que as vezes e sem querer, eu insisto em assumir.

E para aqueles que me são próximos, um pedido, me ajudem a entender o meu papel e me reposicionar quando eu escorregar, quando eu me confundir…

Um abraço afetuoso,

Nívea Viana, mãe de duas filhas, uma de 14 e outra de 11.


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