Incentivando o diálogo

Conselheiro Lafaiete, 12 de janeiro de 2024

Olá, como vão as coisas por aí?

Aqui hoje, tive vontade de compartilhar com você a questão da comunicação com os adolescentes. Se tem algo desafiador é o tal da comunicação, né? E essa dificuldade não é só com adolescentes, acho que é uma dificuldade relacional. Mas também acredito que é a chave do sucesso, por isso me dedico a esse tema.

E acredito que esse desafio se potencializa ainda mais quando se trata da relação das minhas filhas adolescentes comigo. Elas estão na fase de descobrir o mundo e para isso questionam o cotidiano. Conhecer, descobrir, criar o novo passa por questionar a condição atual. Além do mais as mudanças de humor, instabilidades emocionais presentes no processo de individuação, e tanta informação dificulta mesmo a relação delas consigo mesmas e consequentemente comigo, sua mãe. 

O que me impulsiona a buscar diferentes maneiras e estratégias de buscar a comunicação nos mais diferentes contextos. O que me impulsiona a desenvolver a minha resiliência, criatividade e tolerância. O que me ajuda a desenvolver minhas habilidades e a me conhecer um pouco mais. 

O que fez muita diferença na minha comunicação foi conhecer os conceitos da comunicação não violenta. Me formei em engenharia, então gosto de dados e fatos. A abordagem do CNV ensina a aplicar isso na comunicação. Então busco trazer dados e fatos para a nossa comunicação. O que muitas vezes funciona, e outras nem tanto, pois o meu cérebro, de vez em quando, joga contra. Muitas vezes os fatos que eu recordo são diferentes dos fatos que elas recordam. Aí, nessa hora ficamos em um impasse. Sem saída.

Outra estratégia que busco usar é incentivar o diálogo após a prática de exercício físico, quando elas não estão exaustas, claro. É comprovado que a atividade física promove o bem-estar e busco me beneficiar desta condição. Quando fazemos atividade física juntas, então é melhor ainda, pois eu e elas estamos desfrutando do bem-estar que a atividade física promove. 

Buscá-las na escola é uma prática que também tende a funcionar e reduzir as respostas monossílabas. Quando percebo que elas estão empolgadas, com algum acontecimento, então procuro incentivá-las a explorar um pouco mais sobre o que aconteceu. Faço perguntas sobre detalhes. Muitas vezes elas se cansam e falam, mãe chega né? Foi isso. 

Gosto também de convidá-las para fazer alguma atividade juntas, e sim, esse é o momento de diálogo fluido. Tipo cozinhar, jogar bola, montar quebra cabeça, fazer alguma atividade artística como pintura, desenho. Outra estratégia é convidar para ver uma série juntas e depois puxar assunto a partir do enredo e dos personagens da série ou do filme. 

Gosto também de ler os livros que elas já leram para ter assunto para conversar. Não é sempre, mas sempre que consigo, busco criar oportunidades para entrar no mundo delas e ter assunto. Não é tudo que dou conta. Por exemplo, minha filha adora (séries japonesas), mas eu não aguento. Assisti só uma. A vantagem é que meu marido curte, então para este assunto deu certinho. 

Quando elas estão chateadas ou com raiva, aí que eu escolho me esforçar mais. Geralmente dou um tempo, mas um tempo limitado. E neste caso, preciso de mais repertório. Mas às vezes, não consigo mesmo, digo para elas que podem contar comigo, vou para o meu cantinho e envio em pensamento mensagens do tipo para elas: “É filha, o dia está difícil, né? Mas confio em você e na sua capacidade de escolher o melhor momento para me acionar. Sei que neste caso, você conseguirá resolver sozinha. Te amo”. E continuo com o meu coração apertado, esperando elas virem para mim. Algumas vezes elas veem, outras elas resolvem sozinhas e chegam alegres.

Quando a situação está muito crítica, eu busco não as abandonar e fico perto por um tempo. Já fiquei quietinha no quarto escuro ao lado de uma delas, e depois de alguns minutos ela começou a falar. Às vezes é difícil falar coisas olhando nos olhos, né? Já conversei também de porta fechada, eu de um lado e ela de outro. 

Já me programei, chamei para outro ambiente, tipo uma lanchonete e disse que só iríamos embora depois que ela me explicasse o que estava acontecendo. Que eu não iria desistir dela. Já escolhi compartilhar com ela meus sentimentos sinceros e como eu estava me sentido naquele dia. Todas essas estratégias funcionam algumas vezes e não funcionam outras. 

E tem dias que a resposta é mesmo monossílaba, muitas vezes limitada a um normal para todas as perguntas. E aí, beleza, não insisto muito. Porém, quando as respostas monossílabas vêm acompanhadas por falta de apetite, mau-humor por um período mais longo, cabeça baixa, choro, aí eu não desisto. 

Eu tenho consciência que não saberei de tudo que está acontecendo na vida das minhas filhas. Mas tenho uma curiosidade genuína de saber das coisas e de conhecê-las nesta transformação que elas estão vivenciando. E essa força interna, me dá energia para aprender e buscar a cada dia novas maneiras. E quer saber, me encanto muito nesse processo. 

E aprendo tanto sobre mim.

Tenho 46 anos, sou mãe de duas filhas de 15 e 13 anos.


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