É preciso confiar nos adolescentes

Conselheiro Lafaiete, 12 de maio de 2023

Querida mãe, espero que esteja bem. Por aqui continuo aprendendo com as experiências e com as minhas filhas.

No mês passado, minha filha e seus colegas combinaram de fazer trabalho escolar aqui em casa. Eles precisavam construir uma maquete, era um grupo de 5 seres entrando na adolescência. Eu os deixei fazerem o trabalho na cozinha e fiquei em outro cômodo, acompanhando o que estava acontecendo pelos sons que eles produziam. Ah, e como produziram sons. Adolescentes juntos são bem barulhentos, né?

Bom, deixei por um tempo e quando ouvi que o barulho não diminuía, com muitas risadas e brincadeiras, eu fui lá onde estavam para saber se precisavam de alguma ajuda. Na verdade, fui com a intenção de verificar se eles estavam realmente fazendo o trabalho e dar um empurrãozinho né… Tipo na tentativa de dar uma controlada na situação. Então cheguei e perguntei se eles precisavam de ajuda, o que eles já tinha feito e o que pretendiam fazer.

Foi neste momento, que minha filha, saiu de onde estava, chegou perto de mim e com a voz calma e me disse baixinho:

Ei, mãe, está tudo bem, viu? Não se preocupe, nós damos conta. Viu, está funcionando, estamos conseguindo fazer a maquete. Nós conseguimos. E olhou para mim com um sorriso e voltou a fazer o que ela estava fazendo. 

Foi aí, que eu, como diz aqui na minha terra, coloquei o rabinho entre as pernas e voltei para o outro cômodo onde eu estava. Bom, no fundo, me senti meio constrangida né? Inicialmente por entender que, naquele contexto, eles realmente não precisavam de mim, pois estavam dando conta da atividade. Apesar do barulho, das risadas, das brincadeiras, era o jeito deles fazerem acontecer. Entendi que precisava aprender com eles, a cumprir minhas responsabilidades com mais alegria e brincadeira. Me lembrou inclusive a história do Martin Seligman, conhecido o pai da psicologia positiva, mas isso é assunto para outra carta. 

E depois por ser repreendida pela minha filha, de uma forma extremamente respeitosa e discreta. E com muita coerência. Pensa bem, uma adolescente, sentiu que eu estava invadindo o espaço deles e de uma forma muito discreta me disse e me mostrou que eles estavam conseguindo sozinhos construir a maquete e que isso importante para eles. Queriam autonomia. Que o jeito que eles organizaram para fazer acontecer passava por brincadeiras, com risos, diversão.

Depois desse primeiro momento, me senti mesmo foi orgulhosa e feliz. Que delícia perceber que eles estão aprendendo a trabalhar em grupo, respeitando o jeito e a forma de ser de cada um, sem que isso afete o propósito da reunião. E que conseguem fazer isso de uma forma leve e gostosa.

Quem dera pudéssemos aprender com eles e cumprir nossas responsabilidades e compromissos com mais alegria. Talvez seja pela maneira séria que encaramos as responsabilidades que muitos adolescentes não queiram crescer, ou tenham medo do crescer. Foi uma boa lição para mim, primeiro perceber que eles querem sim e dão conta da autonomia. Depois que às vezes, é preciso nos lembrar disso, pois sem querer, acabamos querendo controlar situações sem necessidade. Que é preciso permitir que eles experimentem as próprias maneiras de executarem atividades em grupo. E finalmente que é possível cumprir compromissos divertindo, com alegria e risadas.

Lembrar disso tudo, coloca um sorriso nos meus lábios e acalma meu coração.

E assim, me despeço, com muito carinho.

Mãe de 46 anos, com duas filhas, de 14 e 12.


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