Ensinando e aprendendo sobre fé

Goiânia, 25 de abril de 2023.

É engraçado como os nossos filhos sempre nos tiram da zona de conforto e nos trazem para o movimento. A consequência disso é a transformação.

Eu e meu esposo compramos um apartamento na planta que planejamos para nossa vida, aquele lugar tão sonhado onde construiríamos nossa família. Um apartamento de 3 quartos com excelente área de lazer. 

Primeiro veio o Miguel e dois anos e cinco meses depois, a Sarah nasceu. Estávamos muito realizados até chegar a pandemia de onde nos vimos presos dentro de quatro paredes com duas crianças pequenas. Tudo fechado, todas as dependências do prédio.

Passamos momentos difíceis e surgiu a vontade de mudarmos para uma casa. Sempre fui apaixonada pelo setor sul, bairro onde meus filhos estudavam, muito arborizado e tranquilo.

Comecei então a comentar sobre como seria bom morar em uma casa pertinho da escola, ter um quintal, plantas e quem sabe até um gatinho de estimação. Todos compraram a ideia rapidinho.

Acontece que no mundo infantil, o relógio anda muito rápido ou muito devagar, não tem meio-termo e comecei a ficar preocupada com a expectativa que havia gerado. Perguntas como “mamãe, que dia vamos mudar?”, “já posso arrumar meus brinquedos para mudar?”, “onde é a nossa casa nova, você já encontrou?” começaram a me tirar o sono.

Somos uma família católica, ensinamos os valores religiosos aos nossos filhos, a importância da oração diária e de que “Papai do Céu sempre nos atende”. Já estávamos rezando todas as noites e pedindo a nossa casa nova ao “Papai do Céu” a alguns meses e nada de acharmos uma casa dentro dos nossos padrões financeiros, local desejado e que correspondesse ao tamanho dos nossos sonhos, sem contar que olhar imóvel durante a pandemia estava muito complicado.

Vimos uma casa para alugar localizada na rua atrás da escola das crianças e ficamos muito contentes. Liguei na imobiliária, mas a casa já estava em processo de aluguel, foi um baque, pois era exatamente onde queríamos.

Certo dia meu filho Miguel me perguntou novamente, “mamãe que dia vamos nos mudar? Já esperei muito tempo.” Cansada, respondi que iríamos nos mudar no dia que a mamãe ganhasse na mega sena e ele ficou calado.

No dia seguinte recebo um telefonema da minha mãe dizendo que eu precisava parar de colocar tantos sonhos na cabeça das crianças que o Miguel disse a ela que nós já íamos nos mudar na próxima semana, que eu só iria ganhar na mega sena naquele final de semana para mudarmos.

Fiquei tão chateada comigo mesma, pois mesmo que tenha sido uma brincadeira que fiz com meu filho, percebi como minhas palavras tinham poder e que eu não poderia ficar alimentando ilusões em meus filhos.

Fizemos uma reunião de família e disse às crianças que esse sonho de mudar para uma casa não iria dar certo naquele momento e que agora a pandemia já estava acabando, que podíamos brincar nas áreas de lazer do prédio com horário marcado, que as aulas estavam voltando e que tudo ficaria bem. Foi uma decepção total… o Miguel na época com sete anos, ficou desconsolado e a Sarah com quatro anos, ficou mais chateada devido ao gatinho que ela queria tanto.

Meu filho nos disse: “Mas estamos pedindo a tanto tempo para o Papai do Céu, por que ele não atende? Você disse que Ele sempre atende”. Tentei explicar sobre o ‘Tempo de Deus’ e o ‘Tempo do Homem’, mas não tive muito sucesso. No fundo, me sentia culpada por gerar tantas expectativas.

Três meses depois, meu esposo estava andando de bike e resolveu passar pela rua onde havíamos visto aquela casa de aluguel, pois teve uma intuição. Quando ele se aproximou, viu um caminhão de mudança parado na porta da casa e decidiu perguntar. A antiga moradora estava mudando da casa, pois havia comprado uma casa nova e ficou apenas três meses morando de aluguel. Ela passou todos os contatos e dados sobre a casa para meu esposo.

No dia seguinte já estávamos olhando a casa e fechando contrato. O mais incrível é que alugamos nosso apartamento em três dias e tudo aconteceu tão rápido como um milagre.

Com as chaves da casa nas mãos contamos às crianças e foi uma alegria. Meu filho Miguel me disse “Eu já sabia, Papai do Céu sempre nos atende, é só rezar mamãe.”

 E foi assim que nos mudamos para a nossa casa no setor sul, pertinho da escola, onde fazemos tudo a pé. Temos plantas, amiguinhos da escola que sempre vem brincar e uma gatinha chamada Hermione.

No dicionário, a palavra fé significa confiança absoluta em alguém ou algo, e foi essa transformação que vivi durante esses meses, todas as noites, rezando no quarto com meus filhos antes de dormir. Acho que não teríamos nos empenhado tanto em realizar o sonho de mudar para uma casa se não fosse pela fé das crianças.

 Agora sempre que queremos conquistar algo, viajar para algum lugar, ou até comprar uma bicicleta nova, as crianças já começam logo com as orações na certeza que “Papai do Céu sempre atende”.

LP, 38 anos, mãe do Miguel de 9 anos e da Sarah de 6 anos


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