Belo Horizonte, 26 de janeiro de 2023
Querida mãe,
Hoje venho para um desabafo!
Estou cansada de sempre sentir culpa, de ter que suprir tudo que é básico para o filho, cuidar da casa, cumprir minhas responsabilidades no meu trabalho e ainda ter que estar linda com cabelos brilhantes, pele sedosa, unhas impecáveis.
As redes sociais nos mostram uma vida de mentira, famílias perfeitas, mulheres deslumbrantes cuidando dos seus filhos com sorriso no rosto e a casa… um brinco! Eu sei que é de mentira, mas gostaria que fosse minha verdade. Se eu não tivesse esse desejo, a profissão de “influencer” não existiria. Eu olho a minha casa desorganizada, a pia cheia de pratos, lista de mantimentos elaborada e por comprar e a criança me chamando sem cessar.
Não, não sou mãe solo!
Mas gostaria de não ter que pedir para dividir o trabalho de casa, gostaria de não ter que pensar sozinha no que vamos comer, gostaria de não ter que pedir para que uma fralda de cocô fosse trocada, como se essa obrigação fosse só da mãe. Gostaria, inclusive, de poder ler um livro diferente dos livros de animaizinhos que leio diariamente, de escutar uma música que não seja da Galinha Pintadinha, gostaria de poder fazer meu cocô sozinha!
Querida Mãe, sei que para essa tarefa não posso pedir sua ajuda, pois essa tarefa é personalíssima, não posso passar para ninguém e tenho que fazer dentro de casa. Mas não recuso um abraço seu! Essa não é uma tarefa fácil, digo ser uma das mais difíceis, pois além de tudo que tenho que fazer, ter mais uma conversa com quem divide a vida comigo e explicar que viveríamos mais felizes se nosso segundo turno de tarefas fosse mais dividido, cansa mais-que-tudo que já é feito. Pois essa explicação gera espaço para eu ouvir o que não estou fazendo.
Gera espaço para outra perspectiva de gestão da casa e dos filhos que eu não sei se quero experimentar, mas que, por vezes, eu experimento e não me arrependo.
Já experimentei deixar as vasilhas na pia, já convidei para arrumarmos a casa juntos, os passeios com a cria ficam mais divertidos se formos juntos, mas mesmo assim, gostaria de ter menos trabalho, até pra buscar a mudança. A tal carga mental que pesa muito e que, por vezes, tira o sono.
Como disse no início, essa carta é um desabafo! Não tem um final feliz porque não cheguei ao final. Mas tenha a certeza que tenho muitos momentos felizes, incontáveis momentos… Eu só precisava reclamar livremente sem que minha vida fosse resumida a isso. Estou só reclamando daquilo que não mostram na rede social, mas que existe sim!
Obrigada por me ouvir! Essa carta foi um grito que me deixou mais leve para viver mais momentos felizes!
Raquel, 38 anos, com filho de 2 anos
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Diário da Mãe em Construção 