Conselheiro Lafaiete, 01 de setembro de 2022
Querida mãe em construção,
Espero que esteja bem.
Tudo começou naquele dia… Sabe aquele dia que tudo fica de cabeça para baixo? Quando a situação sai do planejado e de uma certa forma, todo mundo fica desconfortável. O desconforto se transforma em irritação. A irritação gera ainda mais confusão… Pois é… Foi um dia assim. Estávamos apreensivas, com uma certa tensão no ar. Era semana de prova das minhas filhas e eu tentando escrever um projeto de mestrado, com histórico de fracasso por duas vezes.
Meu marido não estava em casa. Uma das minhas filhas sentiu que não estava preparada para a prova e me pediu ajuda… Mas quando? Quando acordou, claro… Então, inserir algo na rotina matinal é já algo que me deixa ainda mais agitada. Porém, a necessidade e a vontade de ajudá-la, me fez acelerar para gerar esse tempo. Que confusão! Tentei ajudá-la, mas como a cabeça estava no relógio e nas outras demandas, acredito que atrapalhei mais que ajudei.
Ao levar minha outra filha para a escola, ela me disse que esqueceu um caderno importante e pediu para eu leva-lo. Eu sugeri para ela voltar comigo, mas ela não queria se atrasar para a aula. Aí, eu fiquei ainda mais angustiada, pensando: “poxa vida, ela nunca esquece nada e foi esquecer logo hoje que o dia está todo contadinho?”. Disse a ela que não poderia levar, afinal de contas, ela precisa ser responsável, né?
Mas depois que elas foram para a escola e eu cheguei em casa, no silêncio externo que se estabeleceu, meio que confrontando com o tumulto que estava na minha cabeça e a agitação do meu ser, parei um pouco. Respirei fundo e pensei… Uai, o que está acontecendo? Por que estou agindo dessa maneira?
Dia de prova é dia de tensão mesmo, de dificuldade. Tudo bem elas ficarem angustiadas, mas porque eu estou também. E poxa vida, foi a primeira vez que a minha filha esquece um caderno em casa, quem nunca esqueceu algo importante? Bom, será que existe algo que posso fazer para demonstrar meu amor por elas e lhes mostrar que elas podem contar comigo, principalmente nas adversidades?
Então, peguei o caderno, levei na escola e digitei umas mensagens para ela dizendo que a amava e que ela podia contar comigo. Que o caderno dela estava lá na secretaria da escola.
Para a minha outra filha, liguei para o colégio, pedi para falar com ela, disse também que a amava e que ela podia contar comigo e relembrei uns aspectos que ela tinha me perguntado sobre a matéria e que ela estava com dúvida. Nos despedimos e mandei uma mensagem para o meu marido dizendo o tanto que ele é importante para nós e como ele fazia falta para trazer um pouco mais de harmonia na casa, quando eu me descontrolava.
E assim, resolvi demonstrar meu amor e meu apoio para a minha família, naquela manhã que tudo começou virado de cabeça para baixo. Após fazer isso, me senti mais tranquila e consegui com mais paciência e concentração as minhas tarefas diárias.
Na hora do almoço, elas chegaram com outro astral. Minha filha feliz e agradecida por eu ter levado o caderno, me agradecendo muito e dizendo que ela e alguns colegas acharam muito fofo a mensagem e que ela se sentiu amada com o meu gesto. Quando voltei da aula de natação, minha outra filha tinha preparado uma mesa de café da tarde linda. Fez panquecas quentinhas, arrumou a mesa e nos aguardava com um sorriso nos lábios.
A noite ao dormir, pensei como uma mudança do meu comportamento, sair do automático para pensar, transforma, reverbera e se materializa também no comportamento daqueles que estão ao nosso redor. Dormi agradecida por ter a oportunidade de encarar o silêncio e entender o que ele tinha a me dizer naquela manhã. E assim, reconheci que ao demonstrar o meu amor de diferentes maneiras e de formas inesperadas, ele me responde. E que gentileza, gera mesmo gentileza.
Um forte abraço.
Nívea Viana, 45 anos, mãe de duas adolescentes, uma de 14 e 12 anos.
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