O medo de não poder ser mãe

Ouro peto, 13 de junho de 2022

Se tem uma coisa que eu sempre tive certeza na minha vida, é que eu queria ser mãe.

Lembro-me de sempre falar sobre isso com minhas irmãs, era um assunto que rendia horas de brincadeiras e conversas, e escolhas de nomes, que escrevíamos nas portas do guarda-roupa.

Em 2005, conheci o Rô. E em junho daquele mesmo ano, começamos a namorar. À medida que o tempo foi passando, as afinidades foram aumentando, as divergências foram surgindo, e entre tantas coisas que tínhamos em comum, uma delas era a vontade de ter filhos. Ele falava em ter quatro, e eu, sempre dizia que queria ter dois, mesmo assim, o segundo dependeria de como fosse o parto do primeiro. Em setembro de 2010, nos casamos. Em 2011 veio a mudança para outro estado. Ele estava recém formado na faculdade e eu, no 5º período do curso de Serviço Social. Após muita conversa, oração e análise dos prós e dos contras, entendemos que seria uma oportunidade que não podíamos deixar passar. Fizemos as malas e, em meio a choros e desejos de boa sorte, no dia 02 de novembro seguimos juntos rumo ao desconhecido.

Após alguns meses morando no Pará, com as coisas mais ou menos ajeitadas a vontade de aumentar a família surgiu com mais força. Decidimos que era hora de termos nosso primeiro filho. Marquei uma consulta com uma ginecologista obstetra que uma amiga me indicou e fui, nervosa e muito animada. Ela solicitou uma bateria de exames para nós dois e, após os resultados comprovarem que estávamos com a saúde perfeita, parei o anticoncepcional, comecei a fazer uso do ácido fólico, já entendia tudo sobre período fértil, foi só seguir a vida. No primeiro mês após ter parado com o remédio, minha menstruação já atrasou. Sete dias e nada.

Primeiro teste de farmácia, negativo. Então, pensei que ainda devia ser porque tinha pouco tempo que havia parado com o remédio. Segundo mês, outro atraso. 10 dias e não desceu. Coração já ansioso, corri pra farmácia e comprei um teste. Negativo. Tudo bem, era só a segunda tentativa. Vida que segue. 3º, 4º, 5º mês após a interrupção do anticoncepcional e nada. Cada mês um novo atraso, um novo teste, e muito choro após cada resultado negativo. Eu rezava, conversava com Deus, dizia do meu desejo de ser mãe e pedia a Nossa Senhora para me ajudar a ficar tranquila. No 6º mês a menstruação simplesmente não veio. Pensei, dessa vez é. Fiquei feliz, contei pro Rô que já tinha mais de 15 dias de atraso, e já ficamos eufóricos, certos de que tinha acontecido. Corri e marquei logo a consulta. Ele foi comprar o teste na farmácia. E pra minha tristeza e angústia, mais um resultado negativo. Chorei horrores, era um misto de dor e frustração. E ele, muito calmo e centrado como sempre, me falava pra não ficar assim, que estava tudo bem, só não era a hora ainda.

Fui à consulta que já havia agendado e, após relatar o que vinha acontecendo, a Dra. Iza me disse que às vezes demorava mesmo. Me falou pra ficar calma que a ansiedade também atrapalhava o processo e que éramos saudáveis e quando eu menos esperasse, acabava acontecendo. Dois meses depois e nenhuma novidade. Decidi que era hora de começar novos projetos. Falei com o Rô que queria voltar a trabalhar. Consegui um emprego em um hospital muito bom que tinha na cidade, e ficava próximo de casa. Como ele trabalhava de turno nessa época, eu queria trabalhar em algum lugar onde fosse possível sair pra almoçar, assim conseguiríamos nos ver mais.

Oito meses haviam se passado e eu ainda não tinha engravidado. Todos os dias eu ia até a capela que tinha no hospital, me ajoelhava em frente ao altar, e entregava o nosso desejo nas mãos do Senhor.

Nova consulta, e a Dra. Iza solicitou um ultrassom. Disse que agora precisávamos investigar para entender o que estava acontecendo. Senti um aperto no peito e, nesse momento, tive um medo enorme de não poder ser mãe. 

Resultado do ultrassom: SOP (síndrome do ovário policístico). Chorei dentro do consultório ao ouvir ela me dizer que eu estava infértil. Ela, sempre um amor de pessoa, daquelas médicas que a gente tem vontade de ir ao consultório todo dia só pra bater papo, me acalmou e disse que faríamos o tratamento, que eu não era estéril, só estava infértil, e brincou dizendo que meus ovários só estavam preguiçosos.

Comecei o tratamento, mas nada mudou. Só atrasos e mais exames negativos. Meu esposo, sempre tranquilo, calmo, falava que era por que ainda não era a hora. Que na hora certa Deus ia permitir que acontecesse.

Já era fevereiro de 2013, mais de um ano tentando, sem conseguir. Depois de mais um resultado negativo, cheguei ao trabalho e fui direto para capela. Me ajoelhei e aos prantos conversei mais uma vez com deus. Disse a Ele que não queria mais sofrer com aquela situação, eu não aguentava mais aquilo, a cada resultado negativo era uma sensação de perda, uma dor. Eu não queria mais passar por isso. Me lembro de rezar e dizer que Ele conhecia o desejo do meu coração e que eu estava entregando de verdade aquela situação nas mãos Dele. Que eu não iria mais sofrer com aquilo e pedi a Ele que quando achasse que eu estava pronta, se eu fosse digna de gerar uma vida, que Ele me desse essa honra. Saí da capela e fui trabalhar.

Era final de abril, uma sexta-feira, acordei tomei meu banho, me arrumei e tomei meu café. O Rô ainda estava dormindo, nesse dia ele estava trabalhando de 15:00 à 00:00. Fui pro trabalho e passei na casa de uma amiga, íamos juntas todos os dias.

Ela olhou pra mim e disse: “-Fabi, tá tudo bem? Você tá pálida.” Disse que estava com o estômago ruim desde sábado, que devia ter sido o café que tomei para acompanhar o moço que foi cortar a grama lá em casa. Contei a ela que eu não tomo café, mas nesse dia o senhor Raimundo me falou que um amigo dele passou mal depois de tomar café na casa de uma dona. Eu, com medo de ele passar mal e achar que era meu café, tomei também…(risos)

Ela me perguntou se minha menstruação não estava atrasada e eu disse que não. E fomos embora. Mas aquela pergunta ficou na minha cabeça. Quando passei por um corredor do hospital, me encontrei com a Dra. Iza e perguntei se ela tinha um tempinho. Fomos ao consultório dela e disse que estava com o estômago ruim já tinha uma semana e não lembrava quando tinha sido a última menstruação. Ela me deu um pedido de exame e, ao perceber que fiquei meio receosa me disse, fica tranquila, o não você já tem. Fui ao laboratório do hospital, colhi sangue e a moça me disse que o resultado sairia por volta das 12:30. Trabalhei um pouco ansiosa o resto da manhã. Na hora do almoço o Rô me buscou e falei pra ele. Ele, não querendo alimentar em mim as esperanças, e também já frustrado com tantos resultados negativos, me disse: “-não deve ser nada. Deve ser só o café mesmo que você tomou.” Quando ele me deixou no hospital perguntei se queria ir comigo buscar o exame, mas já não dava mais tempo, ele precisava voltar e se arrumar para ir trabalhar.

Fui direto ao laboratório. Peguei o exame e subi para sala onde trabalhava. Ainda não tinha ninguém. Peguei o papel e fui pro banheiro. Devo ter ficado uns 5 minutos olhando para ele sem saber se abria ou não. Para minha felicidade estava escrito positivo. Comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo, minhas mãos tremiam e eu agradecia a Deus, ainda sem acreditar no que estava escrito. Desci correndo pra mostrar para Dra. Iza. Entreguei pra ela e perguntei: “- tá certo isso aqui? É isso mesmo?” Ela, com os olhos marejados, me deu um abraço enquanto me dava os parabéns. Corri para procurar um lugar que tivesse sinal e liguei pro Rô, não ia aguentar esperar chegar à noite pra contar. Quando ele atendeu eu falei: “Parabéns!”

E ele perguntou:”-Por que?”E eu, aos prantos disse: “ -Deu positivo!”Me lembro até de como a voz dele mudou.Ele falava: “é sério? É sério? “Cê” tá cheia?”Foi um dos melhores dias da nossa vida. Já estávamos com 5,6 semanas quando descobrimos.Tivemos algumas provações ao longo da gestação. Mas, graças a Deus, deu tudo certo. A nossa Alice nasceu no dia 08 de dezembro de 2013, às 18:35, por uma cesárea.

Eu me chamo Fabiana, sou casada há quase 12 anos com o Rondinele. Temos duas filhas lindas e maravilhosas, a Alice, que hoje está com 9 anos, e a Lara, que está com 6. Essa é parte da nossa história. A mensagem que quero deixar para vocês hoje com o que contei, é para que não desanimem perante as dificuldades e provações dessa vida.

Fabiana, mãe de duas filhas, de 9 e 6 anos.  


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