Transformação

Itabirito, 4 de agosto de 2022

Muito além de papéis, rótulos ou funções, participar ativamente na jornada de desenvolvimento de uma criança, é algo transformador. Vou tentar expressar nesta carta um pouco deste sentimento, na minha experiência como pai de três meninas.

Esta carta é sobre transformação.

Dizer que há propósitos para os acontecimentos do dia a dia, seria contrariar minhas próprias convicções, porém existem situações que prepõem de forma tão clara, que preenchem em nós todos os espaços possíveis, mudando as prioridades, alterando os planos, e aos poucos vão nos moldando, suavemente. Esta é a sensação que tenho neste processo de me tornar pai, sei que não estou pronto, e possivelmente nunca estarei, pois este é um processo ativo de busca de conhecimento e transformação contínua.

A paternidade é algo tão natural, que deveria fluir espontaneamente, assim como os pássaros nascem para voar, nós nascemos para trazer uma nova geração. Cabem a nós pais e mães ajudarmos aos novos indivíduos a serem pessoas melhores. Nesta missão tão solene e ao mesmo tempo perturbadora é que me encontro hoje. Então qual é o caminho? Me faço esta pergunta inúmeras vezes, e me dou o direito à dúvida. Da necessidade de entender “o como”, descubro mais de mim, percebo que só posso ser o pai que consigo ser, e esta descoberta é única e intransferível, cada pai ou mãe vão ter de descobrir em si esta figura, para exercê-la na sua plenitude.

Tenho comigo que quando criamos artificialmente figuras com papéis predefinidos, atribuímos rótulos e funções a estas, é como se quiséssemos normatizar algo que é natural, como se pretendêssemos ensinar aos pássaros a técnica para voar.

Fernando Pessoa em um de seus poemas, utilizou a expressão “cadáver adiado que procria”, se referindo ao indivíduo que não exerce o pensamento crítico sobre sua existência, conjecturando sobre os males da vida vivida no automatismo. Entendo que esta citação faz conexão com a abordagem desta carta, pois a plenitude da paternidade e da maternidade se dá com presença consciente, com vida, com entusiasmo e alegria, os filhos são oxigenação, são oportunidades de aprendermos de forma diferente algo que pensávamos já saber. Trazer a energia deles para nós é rejuvenescer através deles e por eles. e certamente tenho uma mentalidade mais jovem hoje e devo isso as minhas filhas, que todos os dias me fazem resgatar dentro de mim a criança que fui um dia. É uma oportunidade de cura e reconstrução.

Para terminar, não poderia deixar de falar do sentimento que resume a relação que tenho com as minhas meninas, o amor. Só o amor é suficiente, é o melhor conselheiro, na dúvida ouço o que diz o coração, mais que livros ou técnicas, não existe diálogo mais produtivo que o de dois corações abertos, prontos para receber e acolher. Então o amor precisa ser a base, precisamos encontrar o brilho nos olhos, o tal entusiasmo. Para isso ponho de lado as normas, as imposições, e somente sinto, deixo que a natureza se sobressaia e que minha prole cumpra em mim o papel natural a ela atribuído, e que a paternidade seja exercida de forma fluida. E que eu também exerça sobre minhas filhas o papel natural de ser pai e consiga ensiná-las além dos princípios e regras, buscando sempre criar a ambiência que propicie acima de tudo o amor na sua forma mais pura.

Libânio, 42 anos, pai da Ana Laura de 7 anos, Helena 5 anos e Cecília 1 ano e 8 meses.  


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