Conversas conflituosas

Conselheiro Lafaiete, 27 de maio de 2022

Querida mamãe,

Estou aprendendo que tenho que realmente ter um certo cuidado com o que desejo. Aqui em casa, eu e meu marido, nós acreditamos verdadeiramente que é importante permitir a expressão das nossas filhas. E que elas tenham a liberdade de se posicionarem, defenderem os próprios pontos de vistas, essas coisas… Mas estou quase querendo colocar uma vírgula nesta história, e acrescentar, desde que, não seja conosco e que a opinião delas não sejam diferentes da nossa…

Ai, será que é possível. Realmente não é ? Parece até conversa desconectada, né? Bom, brincadeiras a parte, mas é isso mesmo, que acontece muitas vezes, no nosso dia a dia. Nós buscamos proporcionar essa liberdade para elas e buscar explicar que a conversa é a principal chave para resolução de conflitos, mas quando as opiniões são divergentes, eu, particularmente tenho um enorme impulso de utilizar minha autoridade na forma de autoritarismo para resolver a questão… Afinal de contas, conversas desafiadoras e conflituosas são muito desgastantes!

Nas últimas semanas, aqui em casa, tivemos algumas conversas desafiadoras com elas. Buscamos (eu e meu marido) trazer fatos, dados, explicar ponto de vista. Mas a cada posicionamento, havia um argumento, uma resposta, um contraponto. E é irritante, no meio da conversa, perceber que elas percebem e sim reconhecem os nossos (meu e do meu marido) pontos fracos, nossas inconsistências. E em muitas vezes, nossas divergências na maneira de pensar e agir a respeito da educação delas.

O que por um lado nos levam, eu e meu marido, a conversarmos antes para buscarmos a nossa concordância e a partir daí traçarmos as estratégias de abordagem. Aos poucos estamos caminhando neste sentido, o que também não é fácil. E de brinde e em nome delas, nos aproximamos e fortalecemos a nossa relação.

Por outro lado, e de maneira individual, esse comportamento me impulsiona a repensar meus argumentos, minhas abordagens, e avaliar mesmo, o real propósito e de onde vem certos posicionamentos. As vezes surgem medos, ansiedades, que estavam escondidinhos, sabe… Essas conversas já me levaram a lugares que eu preferiria mesmo era fugir deles.

Também estamos aprendendo a mostrá-las as próprias inconsistências… O que as vezes, no primeiro momento, acaba irritando-as ainda mais.

E isso é irritante, cansativo… Pensar no porque, na razão das escolhas, para ter a consistência na fala e no comportamento é um desafio diário… E também lidar com a irritação delas, né? Geralmente, eu me pego entregando os pontos, pulando fora da conversa e recolhendo para não conversar. Num dia desses, uma delas me disse:

– Uai, mãe, mas não é você que defende a ideia que é na conversa que resolvemos as coisas? Estou aqui para conversar e você quer me deixar falando sozinha?

Ah, como foi difícil ouvir isso. Foi difícil porque naquele momento era pura verdade, enxergar a incoerência na fala e comportamento. Então respirei fundo e disse:

– Verdade filha, me desculpe. Eu realmente acredito que o diálogo é a chave, mas que é muito difícil encontrar um consenso às vezes, buscar argumentos desgasta, é cansativo e me dá preguiça. Mas vamos lá com preguiça mesmo. Deixa pelo menos eu tomar uma águinha para continuarmos.

E então voltamos a conversa, as vezes os nervos sobressaem, as vezes tem aumento de tom de voz, as vezes tem choro, as vezes tem até grito. Mas, o que eu percebo de objetivo nesta prática aqui em casa, é que as mágoas passam rápido, e as vezes, os olhos ainda estão inchados e vermelhos quando um eu te amo sai das bocas delas.

Depois de um desses momentos de intensidade, eu e meu marido, olhamos um para o outro e concordamos:

– É complicado? Elas possuem pontos de vista firmes e é difícil conversar neste estágio, né? Ah, mas é tão fofo vê-las defendo suas próprias ideias, não é mesmo?

Sorrimos e concordamos.

E sim, esse comportamento inicialmente irritante, aliás, muito irritante, me traz por outro lado uma esperança, de que vai ser difícil elas serem reprimidas, enganadas, envolvidas em relacionamentos abusivos, pois elas estão aprendendo a se posicionar e defender os próprios pontos de vista.

E é essa esperança que me fortalece a ter mais paciência e persistência nestes momentos, para as tantas outras conversas desta natureza que ainda surgirão…

Com essa crença e com muito amor, me despeço,

Nívea, mãe de duas filhotas, de 14 e 11 anos.  


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