A decisão de ter um único filho

Mariana, 07 de dezembro de 2023

Sou mãe de uma criança de 07 anos e com uma certa frequência me pego pensando em como será a vida do meu filho sem irmãos. Acredito que uma série de fatores colaborem para isso…

Talvez o primeiro deles seja que venho de uma família construída com irmãos e muitos primos, o que se traduziu em importantes memórias afetivas, bem-estar mental e formação de rede de apoio, que hoje já não é mais tão numerosa quanto foste há anos atrás, mas fundamental e, especialmente importante, nos momentos de dificuldade, uma vez que com o passar do tempo, as rotinas corridas e os reveses da vida (incluindo os tempos de pandemia), os amigos apresentaram-se longe e escassos.

É como se com o familiar houvesse um elo de certa forma indivisível, onde encontramos espaço para pedir socorro ou mesmo sermos olhados de uma forma peculiar, que contemple as nossas reais necessidades, muitas vezes não percebidas por quem está de “fora”. Entendo que isso não é uma máxima… Nem sempre o familiar terá esse olhar e pode ser que o encontremos “fora”. Contudo, avaliando o meu círculo de convivência, principalmente durante e pós- pandemia, vejo que o seio familiar tem se apresentado como muito importante no contexto do apoio, especialmente em se tratando da relação entre irmãos.

Há situações, como, por exemplo, a do envelhecimento/adoecimento dos pais, que me trazem algumas reflexões sobre a sobrecarga emocional e física a que os filhos são expostos quando se deparam com elas. No contexto, então, do filho único, isso se torna ainda mais agudo: “Com quem desabafar, dividir tarefas e decisões?”.

O cuidado com os pais na fase em que passam a perder parte ou toda a autonomia não é a única reflexão que me acomete… Em outros reveses da vida, a relação de irmandade ocupa especial espaço no apoio, seja ele de qual natureza for.

Mas, mesmo em meio a todas essas reflexões e tantas outras que me pego fazendo, quando meu filho está repetida e insistentemente a clamar por parceria nas brincadeiras (da hora que acorda até a hora de dormir, afinal não tem um irmãozinho para tal!), eu logo tento buscar dentro de mim as raízes que me fizeram optar por não ter outro filho: sou realizada como mãe, não tenho o desejo de enfrentar outra gravidez, outro parto, meses de amamentação, muitas noites mal dormidas, acompanhar inúmeras e cada vez mais complexas rotinas escolares, abdicar dos meus projetos novamente (pois, sim, os deixei de lado para exercer uma maternidade presente e não absurdamente exaustiva, característica da dupla jornada. Obs.: tive essa oportunidade e respeito todas as formas de exercício da maternidade!) e, ainda, outras questões, as quais deixarei para uma próxima oportunidade.

Quando sou honesta comigo mesma, talvez até pelo avançar da idade (já há um passo dos 40), o pensar em iniciar tudo novamente me traz um certo desespero, um sinal de que para mim já deu, está ótimo!!! 

O que de fato me pega não é, propriamente, a minha relação para com o meu filho, a qual tento cultivar da melhor maneira possível, sendo uma mãe presente e participativa, mas sim o pesar por algumas relações que ele não poderá ter dentro da realidade de filho único. Entretanto, tenho a lucidez de que o desejo de querer deve ser a força motriz e esse eu não tenho.

Não tenho dúvidas, ouvindo os relatos de quem tem mais de um filho, que é recompensador mesmo em face às dificuldades, assim como considero sê-lo tendo apenas um e olhando para quem não tem com o sentimento: “hum, mas é um amor tão gostoso de se viver”. Contudo, a meu ver, em todas as situações a algo único e indubitável: a genuína vontade de querer ter o filho. Para essa não há controvérsias, exceto caso coloquemos pesos alheios na nossa balança!

          Mãe de uma criança de 7 anos.


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