Força de um momento

Mariana, 05 de maio de 2022

Hoje foi daqueles dias em que muita coisa deu errado, mas a vida é surpreendente. No final da tarde, estava exausta e, então, como um auto-afago, resolvi passar em uma cafeteria antes de buscar a criança na escola.

Em uma das mesas, havia uma mãe com um bebê de uns quatro meses. Logo que chegou o pedido da mãe, o bebê começou a chorar (é sempre assim). Ela mudava o bebê de posição, tentava comer de diversas maneiras e o desconforto era explícito. A única coisa que pensei foi ir até eles e me oferecer para segurar o bebê enquanto ela comia, mas fiquei um pouco constrangida, porque, afinal, estamos num resquício de tempos pandêmicos e não sabia se seria adequado segurar um bebê. Mas meu incômodo ia aumentando, porque eu queria que aquela mãe tivesse seu direito de comer sossegada preservado e que a criança também ficasse bem. Então coloquei a máscara, passei álcool nas mãos e me aproximei oferecendo meu colo para o bebê enquanto ela comia. Ela já estava arrumando o sling no seu corpo e me agradeceu, dizendo que ali o bebê ficaria tranquilo. Voltei para a minha mesa para continuar o meu café. 

Pouco tempo depois, chegou a garçonete à minha mesa com um bombom e um bilhetinho. Olhei surpresa e, antes que eu falasse estar havendo um engano, ela me disse que uma cliente tinha pedido que me servisse o bombom acompanhado do bilhete. Era um bombom de nozes, o meu preferido. 

Quando entendi o que havia acontecido, fiquei emocionada. Olhei em direção à mãe com o bebê e fiz um gesto de agradecimento, ao que ela retribuiu com um sorriso. Foi incrível a força daquele momento! Havia, ali, muito afeto, muito reconhecimento, muita força. Aquilo salvou meu dia. Me senti abraçada, acolhida, talvez muito mais do que pensei poder proporcionar a ela, quando fui oferecer meu colo ao seu bebê. 

Ao sair da cafeteria, ela passou pela minha mesa e me agradeceu novamente. Trocamos umas poucas palavras de apoio e carinho. Contei a ela que tinha um filho de 8 anos, então nos desejamos boa sorte com nossas crianças.

E por que estou contando isso aqui? Porque eu só consegui realizar esse gesto a partir do meu aprendizado diário na escuta de mulheres, principalmente das que são mães.  Em outros tempos, o choro do bebê passaria apenas como um desconforto para o momento de paz que eu procurava ali. Eu quero relatar isso para dizer que tenho certeza de que o encontro entre mulheres é algo do que há de mais potente nessa vida, principalmente das mulheres- mães. Nossa luta é política e o amor, nosso material mais genuíno. 

Atenciosamente, Elke 45 anos, mãe de um garoto de 8 anos


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