Um filho adicto

Rio de Janeiro, 20 de outubro de 2022

Fui convidado para participar do projeto cartas e escrever como filho.

Falar de meus pais (mãe com 73 anos e pai com 72 anos) sempre foi uma grande dificuldade, pois meus pais herdaram dos seus apenas a força do estudo e muita disposição para vencer.

Falar de sentimentos é algo que quase não ocorria lá em casa, eu (com 45 anos) e meus irmãos fomos educados para ter excelentes resultados (nota 10 e nada menos que o 10).

Lidar com esta cobrança toda sempre foi muito difícil para mim e desde muito cedo havia uma crença na família de que o licor poderia ser servido para crianças.

Achei dentro da família a melhor combinação (afeto das avós e tias avós junto com o consumo de licor – só na casa de minha avó materna que não havia bebida alcoólica e demorei a entender a razão).

Assim, fui descobrindo na bebida alcoólica o prazer para anestesiar toda aquela cobrança e consequentemente meu comportamento estava mudando, o que foi gerando ainda mais atrito na família.

Sem saber estava trazendo à luz um grande problema familiar – o alcoolismo. Hoje sei que muitos de meus antepassados tiveram sérios problemas com bebida alcoólica.

Contudo, além do álcool, eu tinha um comportamento compulsivo somado a um pensamento obsessivo de estar sempre relaxado (anestesiado).

Assim fui crescendo, tropeçando na vida e com cada vez mais conflitos com meus pais. Afinal, tinha trazido à tona o comportamento de meu avô materno, o que muito incomodava minha mãe.

Assim fui crescendo, tropeçando, criando conflitos e por fim fui apresentado as drogas ilícitas por amigos (amigos mesmo, que eu frequentava a casa deles, meus pais e os pais deles eram amigos).

Ninguém, jamais, suspeitou que conhecemos as drogas através de amigos que já usavam drogas. Por fim, após ter concluído à faculdade conversaram comigo e deram o seguinte ultimato: você muda este comportamento ou esta fora de casa.

Assim saí da casa de meus pais e continuei a usar drogas. Consegui fazer algum progresso profissional; mas como nada sabia sobre o mundo das drogas, tudo que construí – eu destruí.

Por fim, me rendi no ano de 2009, aceitei a ajuda de um amigo que conhecia Narcóticos Anônimos e cheguei em um grupo no dia 08-01-2009.

Hoje continuo limpo e em recuperação; mas meu contato com meus pais pouco melhorou. Mas isto me serve para alertar que a confiança da família é a última a ser perdida e nem sempre é restabelecida ,mesmo com anos de recuperação.

Esta carta é mais no sentido de alerta e informação. Ser filho adicto é seguir por caminho solitário pelas escolhas feitas no passado.

Eduardo, 45 anos.


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